Título: Poucas candidaturas estão confirmadas
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 27/01/2008, O Mundo, p. 37

Líder do maior partido de oposição ameaça deixar disputa por falta de cobertura da mídia.

MOSCOU. Dentro de uma semana estará aberta oficialmente a temporada da campanha eleitoral na Rússia. A partir do dia 2 de fevereiro, quando faltará um mês para o pleito presidencial, os candidatos estão autorizados a usar a mídia para atrair os eleitores. Não se esperam surpresas e o candidato de Vladimir Putin, Dmitri Medvedev, atual vice-primeiro-ministro, deve ser o grande vencedor nas urnas. Embora a esta altura já não faça tanta diferença, resta saber quem serão os concorrentes do nome apoiado pelo Kremlin.

A candidatura de Medvedev foi a primeira a ser confirmada pela Comissão Central Eleitoral da Rússia, que ainda deu o sinal verde aos líderes do Partido Comunista, Gennady Ziuganov, e do Partido Democrático Liberal, Vladimir Zhirinovski, como já era esperado. Mas nos últimos dias, rumores de que o candidato dos comunistas poderia desistir de concorrer ficaram cada vez mais fortes. Ziuganov, líder do atual maior partido de oposição do país e segundo mais votado nas eleições parlamentares em dezembro passado, deixaria a corrida presidencial alegando a falta de cobertura da mídia para a campanha dos comunistas. Segundo ele, as condições de competição são desiguais.

Dúvidas ainda pairam também sobre a participação dos dois candidatos independentes: o ex-primeiro-ministro de Putin Mikhail Kasyanov e o líder do Partido Democrático, Andrei Bogdanov. Ambos entregaram os documentos exigidos pelas autoridades e aguardam a resposta da comissão eleitoral. Como não pertencem a partidos que façam parte da Duma (Câmara baixa do Parlamento russo), devem submeter às autoridades eleitorais dois milhões de assinaturas chancelando sua participação no pleito.

Procuradores investigam assinaturas de ex-primeiro-ministro

Tudo indica que Kasyanov deve ficar fora. Integrantes da comissão afirmaram que mais de 10% das assinaturas encaminhadas pelo candidato às autoridades não eram válidas. Esta semana, procuradores do Estado abriram um inquérito criminal para investigar o caso. Primeiro a ocupar o posto de primeiro-ministro na gestão Putin, Kasyanov tornou-se um opositor importante do governo após perder o cargo em 2004. Ele diz que o Kremlin está boicotando a sua candidatura. Seja esta a explicação ou não, o fato é que a desclassificação de Kasyanov pode dar margem a críticas de que o governo está organizando uma campanha sem concorrência.

Mais grave ainda seria a desistência de Ziuganov. O líder dos comunistas não desmentiu os boatos, mas afirmou que a decisão não tinha sido tomada.

¿ Estamos considerando esta opção, mas ainda contamos com o bom senso das autoridades ¿ disse em entrevista a agência Tass durante visita à China.

De acordo com a última pesquisa de opinião divulgada pelo instituto independente Levada, Ziuganov teria 9% das intenções de voto dos eleitores. Kasyanov contaria com 1% e Bogdanov também. Os dados foram recolhidos entre 18 e 22 de janeiro e a margem de erro é de 3%. (Vivian Oswald)