Título: Em busca do equilíbrio
Autor: Brody, Jane E.
Fonte: O Globo, 27/01/2008, Ciência / Saúde, p. 41

A prática de uma série de exercícios, que não exige treinamento ou equipamento especiais, é capaz de evitar as quedas, que são comuns com o envelhecimento.

Scott McCredie, jornalista de Seattle especializado em ciência e saúde, conta ter descoberto o que chama de ¿senso perdido¿ de equilíbrio depois de ter visto, horrorizado, seu pai, de 67 anos, levar um tombo durante uma caminhada.

Apesar de seu pai ter ferido um pouco mais do que o orgulho, McCredie ficou intrigado sobre o que fez esse mochileiro experiente e atlético perder o equilíbrio de repente. A pesquisa posterior feita por ele deu origem ao livro ¿Balance: In Search of the Lost Sense¿.

Percebendo que, anualmente, um em cada três americanos de 65 anos ou mais cai, e que essas quedas e suas conseqüências, às vezes desastrosas, estão se tornando mais comuns com o envelhecimento da população, McCredie perguntou-se por que o equilíbrio não é discutido tão freqüentemente quanto musculação, aeróbica e alongamento. Ele descobriu que o senso de equilíbrio começa a diminuir quando se tem 20 e poucos anos. E a partir daí, a queda é, ao mesmo tempo, literal e figurada, a menos que algumas medidas sejam tomadas para preservar e restaurar essa delicada habilidade

Uma área que ainda é subestimada

A vertigem, que pode ser causada por infecções no ouvido, pressão baixa, danos no cérebro, determinados medicamentos e algumas doenças crônicas, é a perda do equilíbrio ao extremo. Qualquer um que já viveu essa experiência ¿ mesmo que apenas brincando de rodar em círculos ¿ sabe como isso é ruim e perigoso. Na verdade, sem um senso de equilíbrio, qualquer coisa na vida se torna um obstáculo intransponível.

Uma conseqüência normal do envelhecimento é um forte declínio dos três principais fatores que contribuem para um bom equilíbrio ¿ a visão, as terminações nervosas na parte inferior dos pés que levam a informação sobre posições ao cérebro, e os finos pêlos nos canais semicirculares do ouvido que transmitem informações sobre a gravidade e o movimento ao cérebro. Acrescente a perda de força muscular e de flexibilidade que acompanha o envelhecimento e há uma queda esperando para acontecer.

Mas enquanto certos declínios são inevitáveis com a idade, fisioterapeutas, psiquiatras e especialistas em educação física já provaram várias vezes que o senso de equilíbrio pode ser preservado e até mesmo restaurado por meio de exercícios que não exigem equipamentos e treinamentos especiais. Esses exercícios são tão simples quanto ficar em cima de um pé só ao escovar os dentes ou andar com um pé exatamente em frente ao outro encostando o calcanhar de um pé no dedão do outro.

As idéias de McCredie encontraram eco no trabalho das fisioterapeutas Marilyn Moffat e Carole B. Lewis. Para elas, o equilíbrio é uma área normalmente subestimada dentro do universo das atividades físicas. Autoras do livro ¿Age-defying fitness¿ elas definem o equilíbrio como a habilidade de manter o corpo em sintonia enquanto você levanta, anda ou faz qualquer atividade do dia-a-dia, como vestir calças, andar em uma superfície irregular ou alcançar alguma coisa em uma prateleira.

Para a doutora Marilyn Moffat, o equilíbrio é uma habilidade motora. Para aprimorá-la, é necessário treinar o equilíbrio da mesma forma que se treina os músculos para ter força e o coração para ganhar capacidade aeróbica.

Segundo ela, as duas principais formas de melhorar o equilíbrio são exercícios que aumentam a resistência dos músculos dos tornozelos, joelhos e quadris; além de exercícios que melhorem as funções do sistema auditivo.

Ficar em pé, numa perna só, por exemplo, é um dos muitos exercícios simples que podem ser feitos como parte de uma rotina diária. A fisioterapeuta recomenda começar com exercícios de força e, depois, conforme a pessoa for evoluindo no treinamento, acrescentar exercícios para o sistema auditivo, alguns deles com os olhos fechados.

Sentar e levantar fortalece a musculatura

O simples ato de sentar e levantar, uma ou duas vezes por dia, é capaz de aumentar a força nos quadris, pernas e tornozelos. Isso ajuda o corpo a se adaptar a mudanças de posição, sem que a pessoa fique tonta após estar imóvel por um longo tempo. Marilyn Moffat dá a dica: sente-se ereto em uma cadeira firme, sem se apoiar no seu encosto, com os braços cruzados. Levante-se e sente-se de novo, tão rápido quanto for possível, sem usar o auxílio dos braços. Repita esse exercício três vezes até chegar a dez repetições.

Andar com o dedão de um pé quase encostando o calcanhar do outro também é um exercício que pode ser feito a qualquer hora. A melhor forma de executá-lo é fazê-lo em um piso firme, sem carpetes. Com os músculos abdominais contraídos, ande três metros e repita o exercício uma ou duas vezes por dia. Tente também andar na ponta dos pés e na ponta dos calcanhares. Isso fortalece os tornozelos.

Outro exercício sugerido pela dupla é andar de lado, olhando para a parede, dez vezes em cada direção. As fisioterapeutas sugerem também a prática do tai-chi-chuan, milenar arte marcial chinesa, que melhora o equilíbrio.