Título: Parentes de reféns criticam plano de Uribe
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Fonte: O Globo, 28/01/2008, O Mundo, p. 22

Mãe de Ingrid Betancourt diz que tentar resgatar seqüestrados da guerrilha colombiana é como condená-los à morte.

BOGOTÁ. A proposta do presidente colombiano, Alvaro Uribe, de cercar as áreas usadas pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) como cativeiro para tentar resgatar reféns com a ajuda de organizações humanitárias internacionais recebeu críticas de diferentes setores do país ontem. Tanto parentes de reféns quanto organizações de direitos humanos, o maior sindicato da Colômbia e líderes de oposição condenaram o plano de Uribe.

Segundo Yolanda Pulecio, mãe de Ingrid Betancourt, ex-candidata a presidente da Colômbia seqüestrada em fevereiro de 2002 pela guerrilha, a idéia mostra que, para Uribe, a vida dos reféns não importa:

¿ É algo muito confuso e demasiadamente arriscado. Para mim, é como condená-los à morte.

O plano de Uribe prevê o cerco militar dos lugares onde se presume que os reféns estejam. Na etapa seguinte, o governo informaria a localização às comunidades nacional e internacional, para que elas pusessem em prática as ações humanitárias necessárias para obter a libertação dos reféns.

¿ Sei, senhores generais e coronéis, soldados e policiais, que com seu heroísmo vamos avançar nessa tarefa ¿ disse Uribe no discurso em que anunciou a proposta.

Dirigente da CUT considera ação militar arriscada

A idéia contraria as constantes solicitações de parentes de centenas de reféns no sentido de evitar a qualquer custo ações militares. A mãe de Ingrid lembrou a fracassada tentativa de resgate realizada em junho do ano passado e que causou a morte de 11 ex-deputados do departamento do Vale de Cauca, seqüestrados também em 2002. De acordo com as autoridades, eles foram fuzilados pelos rebeldes.

¿ Não entendo por que o presidente propõe isso sabendo o que significa, sabendo o que aconteceu com os deputados ¿ acrescentou Yolanda.

Ingrid integra o grupo de 44 políticos, soldados, policiais e americanos reféns que as Farc esperam trocar pela liberdade de cerca de 500 guerrilheiros detidos pelo governo colombiano.

Magdalena Vivas, mãe do tenente da polícia Elkin Hernández, capturado há dez anos, também considera absurda a iniciativa, pois, para ela, ¿resgate significa a morte dos reféns¿. Estela Buitrago, irmã do tenente da polícia Julio César Buitrago, também lembra o episódio dos ex-deputados mortos depois de cinco anos de cativeiro.

¿ Com as Farc não se sabe o que pode acontecer ¿ comentou.

Por sua vez, Fabio Arias, vice-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), afirmou que o sindicato se opõe a ¿qualquer ação que ponha em perigo os seqüestrados¿.

Em Caracas, o governo da Venezuela exigiu ontem que o ministro da Defesa da Colômbia, José Manuel Santos, dê provas da suposta presença das Farc em território venezuelano, e se propôs a realizar uma operação no local, desde que Bogotá informe as coordenadas.

¿ Se Santos me der as coordenadas dos guerrilheiros, daria uma coletiva de imprensa no local ¿ disse o ministro do Interior e da Justiça, Ramón Rodríguez, em entrevista ao programa de TV do ex-vice-presidente José Vicente Rangel.

Santos disse, quarta-feira, que três líderes das Farc estariam na Venezuela e que o número dois da guerrilha, Raúl Reyes, estaria no Equador, ¿sem o consentimento das autoridades¿.