Título: Quênia sofre nova onda de violência
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Fonte: O Globo, 28/01/2008, O Mundo, p. 22

Guerra entre gangues de etnias rivais e polícia deixou mais de 40 mortos.

NAIRÓBI. Pelo menos 40 pessoas morreram ontem em conflitos étnicos e enfrentamentos com a polícia nas cidades de Naivasha e Nakuru, no oeste do Quênia. Em Naivasha, 14 pessoas foram queimadas vivas quando grupos de quicuios incendiaram suas casas. A etnia, majoritária no país, é a mesma do presidente Mwai Kibaki, reeleito chefe de Estado em dezembro num pleito sob acusação de fraude.

O anúncio da reeleição do presidente queniano provocou uma onda de violência étnica sem precedentes na história do país, que por enquanto já deixou 800 mortos e cerca de 250 mil desabrigados. O partido opositor Movimento Democrático Laranja (MDL) e observadores da comunidade internacional questionaram o resultado das eleições, o que causou os confrontos tribais entre os quicuios de um lado e luos e kalenjins, apoiadores do MDL, do outro.

Kofi Annan diz que a situação é trágica

Outras 26 mortes já haviam sido registradas ontem em confrontos tribais e com a polícia em Naivasha e Nakuru. A maioria das vítimas apresentava marcas de golpes de facão, principalmente na cabeça. Os habitantes da região do Vale do Rift reclamam que a polícia queniana não atua com vigor suficiente.

Em Nakuru, o toque de recolher decretado pelo Exército na sexta-feira continua em vigor: ninguém pode circular pelas ruas da cidade entre 18h e 7h. As Forças Armadas quenianas estão presentes no local, mas realizam somente tarefas de remoção de escombros. Por enquanto, apenas a polícia tenta manter a ordem, com críticas do MDL.

¿ A polícia só intervém para ajudar os quicuios ¿ afirmou o porta-voz do MDL, Salim Lone.

O conflito se agrava no momento em que o ex-secretário-geral das Nações Unidas Kofi Annan mantém encontros com autoridades quenianas, tentando buscar uma solução para a crise eleitoral.

Annan, mediador escolhido pela oposição e aceito pelo governo, reuniu-se com Raila Odinga, líder do MDL, e deve conversar novamente com Kibaki em data ainda não marcada. O ex-secretário-geral da ONU declarou que o conflito pode ter sido inicialmente provocado pelas eleições, mas se tornou ¿uma outra coisa¿, numa alusão a rivalidades étnicas. Em visita ao Vale do Rift, o ex-secretário-geral da ONU disse que a situação no país é dramática.

¿ O que encontramos foi realmente trágico. Visitamos vários campos de refugiados, vimos pessoas expulsas de suas casas, suas fazendas, avós, famílias, crianças arrancadas de suas raízes ¿ disse Annan. ¿ Acho importante que todos os quenianos respondam com apoio e compreensão, não com vingança.