Título: Jobim propõe parceria militar com a França
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 29/01/2008, O País, p. 3

Segundo ministro, aliança prevê construção de submarino nuclear e helicópteros.

PARIS. O governo brasileiro anunciou ontem, em Paris, o projeto de construir no Brasil, por meio da transferência de tecnologias francesas, submarinos nucleares de defesa e cerca de 50 helicópteros Super Cougar, utilizados em operações de fiscalização da Marinha. Para isso, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, realiza esta semana uma visita oficial à França para discutir parcerias na área militar e, sobretudo, apresentar ao presidente Nicolas Sarkozy, durante encontro hoje, no Palácio do Eliseu, uma proposta de "aliança estratégica" entre os dois países, que incluiria, por exemplo, a transferência de tecnologias.

O governo decidiu acelerar um projeto que existe há quase 30 anos, e jamais posto em prática por questões orçamentárias, que prevê a construção de submarinos nucleares de defesa no país - somente com propulsão nuclear e não dotado, portanto, de armas atômicas.

Durante entrevista na embaixada brasileira em Paris, o ministro Jobim preferiu, no entanto, não comentar valores e nem mesmo mencionar o número de submarinos nucleares que poderiam ser produzidos no país. Ele afirmou que o Brasil já tem a tecnologia para produzir o combustível nuclear, mas não em escala industrial.

- A França entraria com a tecnologia para a fabricação do casco do submarino, que seria transferida, e também com todo o equipamento informático interno - disse Jobim.

A parceria para a transferência de tecnologia seria realizada com a empresa francesa DCNS, estaleiro controlado pelo governo francês que produz esses submarinos (75% do capital pertence ao Estado e os 25% restantes, ao grupo Thales).

Jobim se encontrou ontem com o presidente da DCNS, Jean-Marie Poimboeuf, e visitará amanhã em Toulon um submarino nuclear de ataque e, quinta-feira, a sede da empresa em Cherbourg, no norte da França.

- Deixamos claro que queremos fazer uma parceria para produzir no Brasil a parte não nuclear de um submarino de propulsão nuclear - disse o ministro em relação à sua conversa com Poimboeuf.

O modelo jurídico da empresa brasileira que fabricaria os submarinos nucleares ainda está sendo estudado. Uma nova estatal com controle majoritariamente brasileiro poderia ser criada ou uma empresa já existente poderia ser ampliada para permitir a participação da França, disse o ministro. Ele também não descartou a possibilidade de que submarinos convencionais sejam construídos no Brasil.

Além do submarino nuclear, que seria desenvolvido no Centro Experimental de Aramar, em Iperó (SP), o governo também pretende fechar com a França acordo para produzir helicópteros da Eurocopter (subsidiária do consórcio europeu EADS, controlador da Airbus), também no Brasil. Os aparelhos seriam produzidos pela Helibrás, filial brasileira da Eurocopter, instalada há cerca de 30 anos no país. Segundo Jobim, cerca de 50 helicópteros Cougar, destinados à Marinha, ao Exército e à Aeronáutica poderiam ser fabricados no Brasil.

Ontem, o ministro se encontrou com representantes do banco francês Société Générale - o mesmo que anunciou recentemente ter sido vítima de fraude gigantesca de 4,9 bilhões de euros cometida por um operador -, para discutir a possibilidade de financiamentos para a produção desses helicópteros. Jobim não confirmou, no entanto, o interesse do Brasil pelo avião de caça francês Rafale.

No encontro de hoje com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, o ministro irá detalhar a proposta de aliança estratégica entre os dois países, que envolve projetos com a Marinha (submarino nuclear), a Aeronáutica (helicópteros) e o Exército, com o chamado programa "Soldado do futuro", desenvolvido pela França, com o objetivo de aperfeiçoar a qualificação dos soldados. Jobim também se reunirá hoje com o ministro francês da Defesa, Hervé Morin.

- A França é o único país que apresenta disponibilidades para a transferência de tecnologias no campo militar. Além disso, é o único país europeu presente na região Amazônica - disse Jobim, em referência à Guiana Francesa.

Segundo ele, os detalhes da aliança estratégica militar entre os dois países deverão ser anunciados no encontro entre os presidentes Lula e Sarkozy, na Guiana Francesa, no dia 12 de fevereiro.