Título: PMDB tenta fechar lista de indicações
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 29/01/2008, O País, p. 8

Nomes apresentados ao governo para setor elétrico provocam divergências.

BRASÍLIA. A cúpula do PMDB retornou ontem à noite a Brasília para tentar oficializar junto aos ministros Edison Lobão (Minas e Energia) e José Múcio (Relações Institucionais) a indicação de seus apadrinhados para os comandos da Eletrobrás e da Eletronorte. O presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e os líderes do partido desembarcaram em Brasília para um encontro com Lobão e Múcio, hoje. As conversas com Múcio começaram ainda ontem, mas um encontro mais amplo poderá ocorrer no final do dia de hoje.

Ontem, o comando do PMDB foi lembrado por governistas de que as negociações são partidárias e não devem ocorrer no varejo. Por isso, o partido tem que ter uma posição única sobre os indicados e não interesses diversos. No caso da Petrobras, haveria diferentes posições dentro da legenda. Ontem, o PMDB acompanhou com expectativa a reunião do Conselho da Petrobras, no Rio, que analisaria o nome de Jorge Luiz Zelada. Ele foi indicado pelo partido para ocupar a diretoria internacional da estatal, mas sua aprovação poderia comprometer a permanência de outros peemedebistas na empresa. A discussão sobre a nomeação, no entanto, foi adiada. A reunião foi presidida pela ministra Dilma Rousseff.

Planalto enfrenta reclamações dos preteridos

Ao longo do dia, o ministro José Múcio disse a interlocutores que não há impasse. Mas, na prática, o Palácio do Planalto foi informado de que é grande a reclamação daqueles que serão substituídos e preteridos. Alguns peemedebistas viram o chamado para uma reunião de Lobão com Múcio como um problema, e não como o anúncio das nomeações. Articulador político, Múcio tem conversado com todos os partidos para evitar que as trocas gerem problemas na base.

O PMDB indicou Evandro Coura para o comando da Eletrobrás, tendo o senador José Sarney (PMDB-AP) como padrinho. Já Lívio Assis foi indicado pelo deputado Jader Barbalho (PMDB-PA) para a Eletronorte. O nome de Coura estaria enfrentando resistências dentro do próprio PMDB.

No caso da Eletrosul, o PMDB já negociou com o PT, cuja líder no Senado, Ideli Salvatti (SC), indicou Jorge Boeira. Mas o PMDB ainda pressiona pela nomeação do ex-governador Paulo Afonso para algum cargo na estatal.

Oposição acusa governo de fisiologismo

Ontem, Lobão se reuniu de manhã com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com José Múcio. Oficialmente, foi o primeiro encontro formal do novo ministro com o presidente. Mas Lobão tratou com Lula do preenchimento dos cargos, sendo orientado a levar uma posição de consenso do PMDB.

Líderes do PSDB e do DEM anunciaram que a posição já delicada do governo no Senado deve piorar se o presidente não adotar critérios mais rigorosos na escolha dos novos dirigentes das estatais do setor elétrico, indicados pelo PMDB. O líder do PSDB, senador Arthur Virgilio (AM) considerou absurda a indicação, por exemplo, do executivo de um dos maiores grupos privados de energia, Evandro Coura, do Grupo Rede, para presidir a Eletrobrás, a pedido de Sarney, e patrocinado publicamente pelo presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN).

- Esse é o maior espetáculo fisiológico da Terra. Ao indicar esse Evandro Coura, que botou a mulher em seu lugar nas empresas para presidir a Eletrobrás, o Sarney e o PMDB passaram de todos os limites. O Lula capitulou moralmente. Estamos diante da crônica do escândalo anunciado - disse Virgílio. - E o que Lula ganha com isso? Onde está a esperteza?