Título: Em depoimento, Kátia Rabello liga Dirceu a Marcos Valério
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Fonte: O Globo, 29/01/2008, O País, p. 13

Presidente do Banco Rural confirma encontro com ex-ministro.

BELO HORIZONTE. Durante mais de cinco horas de depoimento na 4ª Vara da Justiça Federal sobre o processo do mensalão, a presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, declarou que o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza era facilitador e intermediava os contatos entre a direção do banco com o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. Segundo Kátia, Valério fornecia detalhes sobre a agenda do ex-ministro.

A presidente do Banco Rural confirmou um jantar com Dirceu, em Belo Horizonte, em 6 de agosto de 2004, e disse que, no encontro, teriam conversado sobre a situação política e econômica do país. Ela contou que queria informações sobre a liqüidação do Banco Mercantil de Pernambuco, onde o Banco Rural detinha 20% de participação acionária. O ministro, segundo ela, não tinha detalhes e ficou de dar um retorno sobre o assunto, o que não teria ocorrido.

Na semana passada, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares depôs à Justiça e desmentiu Dirceu, afirmando que presenciou uma reunião na Casa Civil entre Kátia Rabello e o então ministro. A empresária é uma das pessoas envolvidas no mensalão que estão sendo interrogados na capital mineira.

No depoimento, acompanhado por jornalistas, Kátia Rabello contestou a acusação sobre os valores sacados no banco pelas empresas de Marcos Valério e o PT. Segundo ela, o valor real foi de cerca de R$29 milhões. Segundo a denúncia, foram sacados R$292,6 milhões das contas da SMP&B, Grafitti e PT no Banco Rural em 2005, cerca de 10% da carteira de crédito da instituição. Ela suspeita que os valores incluídos na denúncia foram somados várias vezes.

Kátia informou que o Banco Rural estudava com o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, a criação do banco do trabalhador. A empresária negou intenção deliberada do banco em ocultar nomes de pessoas envolvidas nos diversos saques bancários, que, segundo a denúncia, movimentaram o dinheiro que alimentava o esquema.

Foi interrogado ainda um ex-diretor do Banco Rural, Vinicius Samarane. Os depoimentos do vice-presidente da instituição José Roberto Salgado, e do ex-deputado federal pelo PTB mineiro Romeu Queiroz foram remarcados para 26 de fevereiro. O depoimento mais esperado é o de Marcos Valério, acusado de ser o operador do esquema. Ele será ouvido no dia 1º de fevereiro, também na 4ª Vara. Um de seus sócios na SMP&B, Ramon Hollerbach Cardoso, será ouvido no mesmo dia.