Título: Jogo duplo entre deputados
Autor: Brito, Ricardo; Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 25/04/2009, Política, p. 2
Enquanto defendem oficialmente as medidas moralizadoras contra a farra das passagens aéreas, líderes liberam bancadas para votarem como bem entendem.
José Aníbal, líder tucano: ¿Eu defendi flexibilizar um pouco relativo a familiares, mulheres e filhos de até 21 anos¿ A decisão da Mesa Diretora da Câmara de levar ao plenário a votação sobre as restrições do uso das passagens aéreas deve criar um cenário ambíguo em torno do verdadeiro interesse dos parlamentares. Líderes partidários prometem ao presidente Michel Temer (PMDB-SP) apoiar a proposta original e orientar suas bancadas a votarem sim ao projeto de resolução. Nos bastidores, no entanto, o discurso é outro. Pressionados a defender maior flexibilidade das normas, os líderes se preparam para liberar suas bancadas, pelo menos informalmente, e pregam o discurso de que cada um pode defender sua posição no momento adequado. Essa ambiguidade é resultado da tentativa das lideranças de não entrar em confronto com as pretensões da Mesa e, ao mesmo tempo, não desagradar a seus liderados.
Na prática, os próprios líderes admitem que devem apoiar o projeto de resolução proposto pelos integrantes da Mesa ¿ que radicaliza e limita o uso das passagens apenas a deputados e assessores em serviço ¿ sem, no entanto, comprar a causa ou tentar convencer os parlamentares a mudarem de opinião sobre o assunto.
O líder do PSDB, José Aníbal (SP), disse que seguirá a orientação do presidente da Câmara, mas gostaria de poder estender o benefício a familiares. ¿Vou encaminhar a votação da maneira como o Temer propôs. Mas eu defendi flexibilizar um pouco relativo a familiares, mulheres e filhos de até 21 anos. Como não tem mais acumulação de crédito, é possível fazer isso¿, afirmou o tucano.
Essa posição também foi defendida pelo líder petista Cândido Vaccarezza (SP). ¿Defendendo na verdade, uma reforma administrativa ampla. Não adianta ficar arrumando soluções paliativas para problemas que vão surgindo. É preciso rever o modelo por completo¿, comenta.
¿O que queremos é um debate mais amplo. Sou a favor de mudanças, mas não podemos negar que há um verdadeiro descontentamento em torno da proibição de cônjuges poderem viajar utilizando a cota parlamentar. Tenho que ouvi-los. Propus até a criação de um grupo de estudo para ampliar o debate sobre o tema¿, conta o líder do PP, Mario Negromonte (BA).
O bloquinho também deve ser liberado pelo líder Márcio França (PSB-SP). Segundo ele, as diferentes posições dos integrantes dos partidos que compõem o bloco dificultariam uma orientação de consenso.
A ideia do presidente da Câmara é colocar a matéria para ser decidida por votação simbólica, o que aumentaria as chances de aprovação. O presidente só deve pedir votação nominal se os integrantes do baixo clero cumprirem a promessa de apresentar uma emenda propondo que cônjuges e filhos menores de idade também possam usar a cota de passagens a qual os parlamentares tem direito.