Título: Mercados da Ásia caem por recessão no Japão
Autor: Scofield Jr., Gilberto; Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 29/01/2008, Economia, p. 25

AMEAÇA GLOBAL: Comitê de Finanças do Senado americano altera pacote de estímulo de Bush para US$156 bi

Goldman Sachs diz que 2ª maior economia do mundo já enfrenta desaceleração. Bovespa sobe 1,97% puxada por EUA

Gilberto Scofield Jr.* e Felipe Frisch

PEQUIM, NOVA YORK e RIO. As bolsas asiáticas abriram a semana ontem em baixa, acumulando perdas mensais nunca vistas desde os atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA. Ainda influenciados pelo impacto de uma provável recessão americana no crescimento econômico da região, os pregões afundaram com a divulgação de um relatório do banco Goldman Sachs segundo o qual a economia do Japão, a segunda maior do mundo, já está em contração.

A Bolsa de Xangai despencou 7,19%, enquanto a de Hong Kong caiu 4,25% e a de Tóquio, 3,97%. Seul e Taiwan recuaram 3,85% e 3,28%, respectivamente.

Segundo o relatório do Goldman Sachs, assinado pelo economista-chefe do banco no Japão, Tetsufumi Yamakawa, a economia japonesa já está crescendo menos, especialmente a construção civil e o consumo doméstico. "A recessão é produto não da antecipação de uma recessão nos EUA, provocada pela crise das hipotecas de alto risco, mas da grande queda da demanda interna", afirmou Yamakawa. Ele ressaltou haver sinais de que a produção industrial japonesa entrou em queda depois de ter atingido o pico de atividade, no último trimestre de 2007.

"Há uma grande probabilidade de que a expansão econômica que durou quase 70 meses, desde o início de 2002, tenha chegado ao fim, e a economia tenha entrado em recessão", afirmou Yamakawa no relatório. Ele acrescentou que a queda do consumo interno deixa o Japão mais dependente dos mercados externos - o que pode ser agravado pela desaceleração da economia americana.

Investidores esperam corte de juros do Fed amanhã

O relatório e a queda nos mercados asiáticos fizeram a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) abrir em queda. O Índice Bovespa (Ibovespa) oscilou de negativo para positivo diversas vezes, mas encerrou aos 58.593 pontos, com alta de 1,97%, acompanhando a recuperação nas bolsas americanas. Em Nova York, o Dow Jones avançou 1,45%, o Nasdaq, 1%, e o S&P, 1,75%.

Como, segundo os especialistas, as variações do mercado de ações têm sido influenciadas pelo fluxo de recursos, o dólar comercial recuou 0,17%, a R$1,784, com a entrada de investimentos. O risco-país caiu 0,77%, para 259 pontos centesimais.

- Prova de que a situação para o Brasil não é tão ruim é que o dólar quase não saiu do lugar. Quando, antigamente, teríamos uma crise aqui e o dólar iria se segurar em torno de R$1,80? - argumentou Fábio Cardoso, analista de renda variável da Máxima Asset Management.

Como os preços de algumas ações ficaram muito baixos, investidores ignoraram até mesmo a queda recorde de 26,4% nas vendas de casas novas nos EUA em 2007.

Segundo o analista Gustavo Barbeito, da Prosper Gestão de Recursos, o mercado reagiu bem aos indicadores ruins porque eles podem significar uma nova redução dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). No mercado futuro, aumentaram de 70% para 82% as apostas em um corte de 0,50 ponto percentual nos juros amanhã.

Para o mercado, a volatilidade deve continuar. Segundo Paulo Bilyk, sócio da Rio Bravo Investimentos, a insegurança só irá passar quando os bancos estrangeiros tiverem divulgado todas as suas perdas com as hipotecas de alto risco, o que pode acontecer este trimestre.

Na Europa, as bolsas recuaram puxadas pelos papéis de bancos, devido ao rombo do Société Générale. As ações de HSBC, Barclays e UBS caíram até 2,3%. A Bolsa de Londres recuou 1,36% e a de Paris, 0,61%. Já Frankfurt ficou estável.

Proposta de senador quer dar US$500 a aposentados

O presidente do Comitê de Finanças do Senado, Max Baucus, anunciou ontem mudanças no pacote de estímulo à economia de George W. Bush, elevando seu valor de US$150 bilhões para US$156 bilhões. Baucus, do Partido Democrata (de oposição), propõe a extensão do seguro-desemprego:

- A Casa Branca diz que não devemos atrasar o pacote. Concordo. Vamos melhorá-lo e aprová-lo logo.

A proposta de Baucus reduz o limite da restituição, de US$600 para US$500, mas a estende para os aposentados.

- Os idosos trabalharam duro toda sua vida e ajudam muito nossa economia - disse.

(*) Correspondente, com Bloomberg News e agências internacionais