Título: Lucro do Bradesco aumentou 58% em 2007
Autor: D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 29/01/2008, Economia, p. 27

Resultado de R$8 bi supera o recorde anterior do BB. Banco confirma negociação para comprar corretora Ágora.

SÃO PAULO. O Bradesco, maior banco privado do país, obteve no ano passado lucro líquido de R$8,01 bilhões, valor 58,5% maior que o de 2006. Segundo a Economática, o resultado é um novo recorde no setor bancário brasileiro. O anterior, de R$6,3 bilhões, tinha sido registrado pelo Banco do Brasil em 2006. O lucro foi puxado pela forte expansão das operações de crédito do banco, que cresceram 38,9% frente a 2006 e atingiram R$161,4 bilhões. O Bradesco projetava aumento entre 22% e 27% para sua carteira de financiamentos.

O Bradesco encerrou 2007 com patrimônio líquido (PL) de R$30,4 bilhões, uma alta de 23,2% sobre o ano anterior, e rentabilidade sobre o PL - indicador usado pelo mercado para avaliar a saúde das instituições - de 28,3%, pouco abaixo dos 31,2% de 2006.

No balanço divulgado ontem, as operações de crédito responderam por 25% do lucro do banco, contra 23% em 2006. Das atividades financeiras (incluem ainda serviços, captações e transações com títulos públicos) vieram 69% dos ganhos do banco. Já os negócios com seguros, previdência e capitalização renderam R$2,4 bilhões.

Banco projeta avanço de até 25% do crédito em 2008

O forte crescimento da carteira de crédito foi acompanhado de uma melhoria na classificação de risco dos tomadores. Em 2007, 93,3% das operações tinham classificação de "AA" a "C", na escala do Banco Central, contra 92,1% um ano antes. A inadimplência média dos empréstimos (para empresas e pessoas físicas) fechou 2007 em 3,3%, para atrasos maiores que 90 dias, abaixo dos 3,6% do fim do ano anterior.

Os lucros do Bradesco também foram engordados pela venda das participações que o banco tinha na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), que contribuíram com R$405 milhões para o resultado líquido do quarto trimestre, positivo em R$2,19 bilhões.

Mesmo com as incertezas em torno da crise nos mercados internacionais e da base já grande de sua carteira de crédito, o Bradesco projeta nova expansão, de 21% a 25%, neste ano.

- Não dá para nos preocuparmos com a crise externa. Estamos com a economia em crescimento e dispomos de importantes ferramentas para a análise de crédito hoje. Não temos receio de que a crise afete o crescimento do país - disse o presidente do banco, Márcio Cypriano.

Segundo ele, a expansão do crédito está diretamente ligada ao crescimento da economia (PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos no país), que, nas projeções do banco, será de 4,5% em 2008. Cypriano disse também que a crise não deve impedir que o Brasil receba este ano a classificação de grau de investimento (investment grade) de pelo menos uma das agências de risco.

Com valor de mercado de US$60 bilhões, Cypriano afirmou que o Bradesco tem como prioridade continuar crescendo no país, mas está atento a oportunidades no exterior, principalmente diante dos estragos da crise americana nos balanços de muitas instituições lá fora.

- O Bradesco hoje é muito mais caçador do que caça - disse o executivo, acrescentando que os interesses fora do país não estão no varejo, e sim no atacado.

No mercado interno, Cypriano confirmou que a instituição mantém negociações para a aquisição da corretora Ágora, com sede no Rio.

- Estamos realmente conversando, mas ainda no início, e só podemos confirmar que há negociação - disse Cypriano, lembrando que a Ágora é a segunda maior corretora do país em negócios com ações, daí o interesse. - E, se adquirimos a Ágora, seremos os maiores do mercado.

Vale está autorizada a estudar compra da Xstrata

Também presente na apresentação dos resultados do banco, ontem, o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Lázaro Brandão, que tem assento no conselho da Vale, disse que a mineradora foi autorizada "a olhar a operação" de compra da Xstrata, mas que até o momento "não há nada positivo" sobre uma definição do negócio.

- A decisão dependerá das condições gerais - disse.

Segundo Brandão, nesse processo, tanto a conjuntura internacional como aspectos objetivos, como o preço, estão em análise. Ele evitou comentar a possibilidade de veto do governo à transação, embora tenha admitido que só sai com a aprovação do governo.

- A Vale está autorizada a olhar o negócio, e qualquer outra manifestação dependerá de uma nova avaliação.