Título: Violência étnica no Quênia se espalha e mata mais 130
Autor:
Fonte: O Globo, 29/01/2008, O Mundo, p. 30

Grupos de defesa dos direitos humanos acusam governo e oposição de estarem montando milícias para assassinatos específicos.

NAIRÓBI. A violência étnica no Quênia se espalhou ontem e atinge cidades do Oeste do país e da província do Vale do Rift. Cerca de 130 pessoas foram assassinadas desde sexta-feira, no momento em que governos estrangeiros e entidades de defesa dos direitos humanos acusam os dois lados do conflito de estarem alimentando o enfrentamento, apontando indícios de que as explosões de violência não são espontâneas, mas ataques específicos realizados por gangues organizadas.

Na madrugada de ontem, a polícia encontrou 14 cadáveres na cidade de Naivasha, na turística província do Vale do Rift. Pelas marcas nos corpos, as pessoas foram brutalmente assassinadas. Pela manhã, mais duas pessoas foram mortas na cidade. No necrotério havia 32 corpos, enquanto na vizinha Nakuru havia 64 cadáveres com marcas de violência étnica.

Polícia evitaria agir contra grupo violento quicuio

Desde a eleição do fim do mês passado, cerca de 800 pessoas já foram mortas. Porém, há sinais de que a violência está sendo utilizada por determinados grupos no momento.

¿ O que é alarmante nos últimos dias é que claramente há mãos secretas organizando a violência agora. Há milícias aparecendo, e elas têm alvos muito específicos ¿ disse Mark Malloch Brown, secretário de Assuntos Africanos do Reino Unido.

Há semanas governo e oposição fazem acusações recíprocas de formação de grupos para assassinatos étnicos. Um relatório do grupo de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch acusa tanto um quanto outro de terem envolvimento neste tipo de crime, além de ter detectado excessos da polícia contra oposicionistas.

Henry Kosgey, um dos líderes opositores, acusou ontem o governo de estar utilizando as forças de segurança.

¿ O dever da polícia é proteger a vida dos quenianos assim como seus bens, mas as forças de segurança se desentendem cada vez que os munjiquis atacam outras etnias ¿ disse Kosgey.

Os munjiquis são um subgrupo dentro da grupo étnico quicuio. Desde o início da violência eles teriam matado cerca de cem pessoas das etnias luos e calenjins.