Título: Neve paralisa China às vésperas do Ano Novo
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 29/01/2008, O Mundo, p. 32

Mais de 24 morrem devido a tempestades, que causam caos no transporte e crise energética.

PEQUIM. Às vésperas do feriado do Festival da Primavera, que ocorre semana que vem com a celebração do Ano Novo chinês, as fortes tempestades de neve que há uma semana afetam o centro e o leste da China já causaram a morte de 24 pessoas. E as tempestades não têm prazo para acabar, segundo alerta emitido ontem pela Administração Meteorológica da China. Há dias elas vêm trazendo o caos para o centro-leste chinês ¿ com aeroportos fechados, linhas ferroviárias interrompidas, deslizamentos de terra, atrasos em trens, ônibus, barcos e aviões e cerca de um milhão de pessoas impedidas de se deslocar pelo país.

O governo teme que o caos aumente com a paralisação do tráfego aéreo e terrestre pela neve durante o feriado, quando os cerca de 200 milhões de migrantes que trabalham nas grandes cidades retornam a suas províncias, naquele que é considerado o maior movimento demográfico do mundo. Segundo o governo, nada menos que 2,2 bilhões de passagens de todo o tipo de transporte já foram vendidas para as próximas duas semanas.

O inverno rigoroso, considerado atípico pelos meteorologistas, vem afetando também o suprimento de carvão e aumentando o consumo de energia, o que faz a China viver hoje uma falta de eletricidade da ordem de 70 gigawatts, o equivalente à capacidade total de geração de energia do Reino Unido. Pensando no gargalo, Pequim decretou uma suspensão por dois meses nas exportações de carvão para garantir o abastecimento durante o Ano Novo chinês.

Trata-se da mais grave falta de energia vivida pelo país, segundo as autoridades. A falta de carvão já forçou as maiores geradoras chinesas a interromper o funcionamento de 90 usinas termelétricas com capacidade de produção de 20 mil megawatts. Mesmo algumas minas de carvão que haviam sido fechadas pelo governo, por falta de segurança, foram reabertas para dar conta da falta do combustível.

¿Durante o Ano Novo chinês e os encontros parlamentares todas as exportações de carvão estão suspensas. Onde for necessário, todo o transporte internacional será desviado para abastecer as exigências domésticas¿, diz comunicado do Ministério das Comunicações.

Mas o temor do governo é mesmo o feriadão do Ano Novo, que este ano começa no dia 7 de fevereiro, mas que é comemorado durante mais de uma semana, a começar pela próxima sexta-feira, quando os migrantes começam a voltar para suas províncias. No sábado, 150 mil passageiros ficaram presos na estação de trem de Guangzhou por conta do corte de energia durante praticamente todo o dia, causando atrasos de quase 24 horas nas viagens programadas.

Desde sexta-feira até a manhã de ontem, o aeroporto de Huanghua, na província de Hunan, ficou fechado para pouso e decolagens, deixando centenas de passageiros revoltados. Em Guangdong, o governo fechou rodovias no norte e enviou 15 milhões de mensagens de texto a motoristas pedindo que evitem as estradas por conta das tempestades.