Título: Rio é a capital da mortalidade de jovens
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 30/01/2008, O País, p. 3

Em 2006, cidade registrou 879 das 17.312 mortes de pessoas entre 15 e 24 anos.

BRASÍLIA e RECIFE. O Rio de Janeiro é a cidade brasileira com maior número absoluto de assassinatos de jovens de 15 a 24 anos, segundo o Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros. Em 2006, foram registradas 879 mortes nessa faixa etária. Na comparação com a população, são 83,6 mortes por 100 mil habitantes. A maior taxa de homicídios de jovens está em Foz do Iguaçu, no Paraná, na fronteira com Paraguai e Argentina: 234,8 mortes por 100 mil habitantes. Recife aparece logo atrás, com 214,3. O município fluminense em pior situação é Duque de Caxias, que tem a oitava taxa média mais alta do país, com 176,8 jovens assassinados a cada grupo de 100 mil.

A exemplo do que ocorreu com a população total, os homicídios de jovens caíram 12% entre 2003 e 2006. No acumulado de 1996 a 2006, porém, houve acréscimo de 31%. O estudo mostra que 17.312 pessoas de 15 a 24 anos foram assassinadas em 2006, número inferior ao de 2000. Somados os assassinatos de 1996 a 2006, o total é de 186.921 vítimas jovens no país.

O mapa apresenta dados por cidade desde 2002, quando 1.508 jovens cariocas foram mortos. No Rio, o número caiu ano a ano, totalizando diminuição de 41% no período. A capital paulista ocupa a segunda posição, com 797 jovens assassinados, seguida por Recife, com 636.

Aos 20 anos, Iracema Gonçalves da Silva é o retrato da convivência com uma realidade que faz de Recife a capital mais violenta do país. Aos 5 anos, assistiu à morte do maior amigo com um tiro acidental quando ele brincava com um coleguinha. O tiro foi disparado por um menino que brincava com uma arma. Depois, viu um tio ser executado depois de denunciar à polícia os traficantes do bairro onde morava. Aos 16, com um bebê, ficou viúva. O companheiro, de 18 anos, foi assassinado com seis tiros na porta de casa. O segundo companheiro, Tiago Oliveira da Costa, 19, morreu este ano. Ele ajeitava o pneu da bicicleta, quando foi atropelado por um motorista embriagado.

Iracema sofre com o estigma da violência que a cerca:

- Dizem que, como sou viúva duas vezes, é porque sou pé-frio, dou azar, e aconselham aos rapazes do bairro a não namorarem mais comigo.

O diretor-executivo da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), Jorge Werthein, disse que a queda do número de mortes de jovens em relação a 2005 é motivo de alegria, embora ainda considere alarmante o número de vítimas juvenis. E cita o Rio, onde o assassinato de 879 jovens por ano significa mais de dois crimes por dia. (Demétrio Weber e Letícia Lins)