Título: Juros para o consumidor podem subir este ano
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 30/01/2008, Economia, p. 23

Crise nos mercados internacionais e aumento do IOF devem interromper movimento de cortes das taxas

BRASÍLIA e RIO. O consumidor continuará a contar com crédito farto em 2008. Mas, provavelmente, a um custo mais elevado. Segundo o Banco Central (BC), a crise internacional e, especialmente, o aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) deverão interromper o contínuo movimento de queda dos juros dos financiamentos no último biênio, podendo até resultar em altas ao longo do ano. A taxa média cobrada pelos bancos brasileiros caiu 8,2 pontos percentuais em 2007, para 43,9% ao ano, menor patamar já registrado.

Porém, a continuidade da expansão do emprego e da renda, que tem mantido acelerado o ritmo da economia, vai sustentar uma alta entre 20% e 25% no volume de empréstimos este ano - que chegou a quase R$1 trilhão em dezembro, o equivalente a 34,7% do Produto Interno Bruto (PIB).

- A margem para redução (dos juros) fica bastante reduzida. De repente, as taxas podem até subir. Por isso, o consumidor tem de ter cautela neste momento - avaliou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. - Mas o cenário não é preocupante porque ainda há expectativa de aumento de crédito relevante.

Mais tarde, Altamir Lopes, por meio da assessoria do BC, negou que tivesse afirmado que as taxas podem até subir.

Analista: juro pode subir até 1,5 ponto percentual este ano

Boa parte da taxa de juros do financiamento é formada pelo spread (diferença entre o custo de captação do banco e o que ele cobra do cliente). Como esta margem tinha gordura para queimar, as instituições continuaram cortando juros do tomador final, apesar de o custo de captação ter subido no último trimestre. Isso ocorreu porque a turbulência financeira aumentou e o BC interrompeu o ciclo de dois anos de queda da Taxa Selic.

O agravamento da crise neste início de ano tende a elevar o desembolso dos bancos para levantar recursos e espera-se que a Selic não mude em 2008. Além disso, o IOF entra na composição do spread. Sem falar na alta da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) paga pelas instituições financeiras, que valerá a partir de abril.

Só devido à carga tributária maior, o analista da consultoria Tendências Denis Blum calcula que os juros podem subir até 1,5 ponto percentual este ano.

- O mercado de crédito é ilustração perfeita de que o mercado responde a ações do governo - disse Blum, que mesmo assim prevê alta de 21,5% no total de empréstimos no ano.

No ano passado, o aumento foi de 27,3%, elevando o estoque de crédito do país para R$932,3 bilhões. A relação entre crédito e Produto Interno Bruto (PIB), quatro pontos percentuais acima do encerramento de 2006, foi o melhor resultado desde maio de 1995 (35,1% do PIB).

Um dos motores da expansão foi a redução do custo dos empréstimos. O crédito pessoal é o destaque: a taxa média caiu 11,4 pontos percentuais no período. A principal contribuição foi a do financiamento com desconto em folha, pois tem os menores juros (28,4% ao ano) e registrou o maior avanço em recursos emprestados: 34% em 2007.

Se a queda livre das taxas tende a virar passado, Altamir Lopes acredita que o consumidor será beneficiado por prazo mais longo de financiamento. Hoje, em média, está em 351 dias corridos. Como não prevê explosão de juros, Lopes não projeta inadimplência maior.

Sem dinheiro para pagar à vista, Teresa Cristina Samuel, prestadora de serviços dos Correios, em 2007 comprou geladeira, mesa e armário de cozinha, tudo em 12 vezes.

- É sempre ruim pagar juros, mas está dando para parcelar, pois as taxas não estão tão altas - afirmou Teresa, que faz pesquisa agora para comprar um ventilador.

COLABOROU: Mariana Schreiber