Título: Crise faz FMI reduzir projeção de expansão global
Autor: Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 30/01/2008, Economia, p. 25

Economia mundial deve crescer 4,1% este ano, e EUA, 1,5%. Estimativa para China e América Latina foi mantida.

RIO, WASHINGTON e NOVA YORK. A crise provocada pelas hipotecas de alto risco nos Estados Unidos levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a reduzir, ontem, as projeções de crescimento da economia mundial divulgadas em outubro, no "Panorama Econômico Global". A expansão da economia global este ano deve ser de 4,1%, não mais de 4,4%, segundo o FMI, por causa da desaceleração nos Estados Unidos. Esse percentual também está abaixo do crescimento estimado para o ano passado, de 4,9%.

- É uma desaceleração significativa. É uma desaceleração global, sem dúvida alguma - disse o economista-chefe do FMI, Simon Johnson, em teleconferência.

"O risco principal para a perspectiva de crescimento global é que a turbulência corrente nos mercados financeiros pode reduzir ainda mais a demanda doméstica nas economias avançadas e criar mais deslizes significativos em mercados emergentes e economias em desenvolvimento", afirmou o relatório do FMI.

A maior economia do mundo teve suas projeções de crescimento reduzidas de 1,9% para 1,5%. "O crescimento econômico nos Estados Unidos desacelerou notavelmente no quarto trimestre, com indicadores recentes mostrando enfraquecimento dos setores industrial e imobiliário, emprego e consumo".

FBI vai investigar 14 empresas por "subprime"

As projeções para a China ficaram estáveis, em 10%, bem como as da América Latina, que se mantiveram em 4,3%.

- A América Latina fez muitos progressos, o que foi extremamente útil para responder aos problemas externos - disse Johnson. - Por sorte, parece que as principais instituições financeiras não tinham investimentos significativos no setor de hipotecas de alto risco nos EUA.

Mesmo assim, a expansão ficará abaixo da estimada para 2007: 11,4%, no caso da China, e 5%, no da América Latina.

Segundo dados divulgados ontem, a economia americana ainda vai sofrer por um bom tempo os efeitos do subprime. O índice de propriedade de imóveis registrou queda recorde no quarto trimestre, de 1,1 ponto percentual, para 67,8%, em relação ao mesmo período de 2006. Esse dado é apurado desde 1965. Seu ápice foi em 2004, de 69,2%.

Já o número de execuções hipotecárias saltou 75% em 2007, segundo a consultoria especializada RealtyTrac. Esse dado inclui avisos de inadimplência, notificações de leilão e retomada do imóvel por bancos. O número de casas retomadas cresceu 51%, para 405 mil. Só em dezembro, os pedidos de execução saltaram 97% frente ao mesmo mês de 2006.

A crise levou o FBI a abrir investigação contra 14 empresas por possíveis fraudes contábeis e outros crimes. Segundo a Bloomberg News, o FBI não identificou as empresas, que incluiriam financeiras que trabalham com subprime, construtoras e bancos de Wall Street que comercializam papéis lastreados em hipotecas.

Diante da confiança de investidores de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciará mais um corte em sua taxa básica de juros hoje, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teve menos volatilidade ontem e encerrou em alta de 1,60%, aos 59.529 pontos. O dólar recuou 0,11%, para R$1,782, e o risco-país caiu 1,56%, para 255 pontos.

Para Daniel Doll Lemos, da Socopa Corretora, o investidor já assimilou a possibilidade de recessão nos Estados Unidos:

- O Ibovespa chegou a bater 53 mil pontos no auge das preocupações, patamar que foi considerado um piso.

(*) Com agências internacionais

http://oglobo.globo.com/economia/