Título: Matilde Ribeiro, enfraquecida, deve deixar governo hoje
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 01/02/2008, O País, p. 3

Planalto quer agir antes de uma provável CPI e dá ultimato a ministra.

BRASÍLIA. Sem aparecer em público e sem qualquer explicação sobre seus gastos suspeitos com o cartão corporativo, a ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, deixou ontem à noite o ministério, pela garagem, anunciando que continuava despachando normalmente, mas no Planalto o entendimento é de que ela já está fora do governo. Os emissários do presidente Lula, que neste caso decidiu agir antes de uma provável CPI, deram-lhe um ultimato e avisaram que ela tinha duas saídas: se demitir ou ser demitida.

Matilde passou o dia em reunião com sua equipe preparando a melhor forma de sair, sem ser desmoralizada. O anúncio pode sair ainda hoje, ou no carnaval, para evitar maior desgaste.

Depois da reunião com ministros, anteontem, quando Matilde tentou justificar os gastos, ontem coube ao chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, convencê-la de que a situação era insustentável. A avaliação é que a ministra tem dois caminhos: sai hoje, e logo o assunto é esquecido, ou resiste e adia para depois do carnaval, quando poderá ser convocada a depor no Senado ou na Câmara.

Governistas temem começar o ano com agenda negativa

Matilde não divulgou qualquer nota, como fora prometido. Por e-mail, sua assessoria informou que "a direção da Secretaria apóia a decisão da ministra Matilde Ribeiro de colocar-se à disposição para prestar informações aos órgãos competentes, apurar e corrigir possíveis falhas no uso do cartão de pagamentos do governo federal".

O clima entre os governistas ontem era péssimo. Temem começar o ano legislativo com uma agenda negativa. Ou com uma CPI.

- O presidente Lula não merece isso. Todos os ministros deveriam usar a diária de R$180, ao invés de cartão, que sempre foi uma fonte de dor de cabeça. E que procurem restaurantes mais baratos, ora! - disse o líder do PR, Luciano Castro (RR).

O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, disse que nunca usou e nem vai usar o cartão:

- Minhas despesas pago do meu bolsinho, filha, para não ter que dar esse tipo de satisfação. O resto pago com a diária de R$180. Nunca tive problemas nem vou ter.