Título: Morre mulher com suspeita de febre amarela
Autor:
Fonte: O Globo, 01/02/2008, O País, p. 10

Enfermeira, que tinha lúpus e, por isso, não deveria ter sido imunizada, pode ter contraído a doença pela vacina.

SÃO PAULO E RIO. Morreu ontem a enfermeira internada em São Paulo após tomar a vacina de febre amarela. Marizete Borges de Abreu, de 43 anos, teve infecção generalizada e falência múltipla dos órgãos, e a suspeita é que tenha contraído a doença pela vacina. Ela estava em coma na UTI do Hospital Geral de São Mateus, na Zona Leste de São Paulo, onde trabalhava.

Marizete tinha lúpus, doença auto-imune que baixa a resistência do organismo. Essa doença desenvolve anticorpos que reagem contra as células normais do corpo. Ela não poderia tomar a vacina, produzida a partir do vírus atenuado da doença, exatamente pelo risco de contrair a febre amarela.

A Secretaria Municipal de Saúde diz que Marizete não informou que tinha lúpus e que, se o tivesse feito, teria sido orientada a não tomar a vacina. A assessoria não disse em qual unidade em que ela foi atendida, mas garantiu que todos os funcionários orientam os pacientes sobre efeitos adversos e complicações da vacina.

Vacina não é recomendada para gestantes e bebês

Segundo o Ministério da Saúde, todas unidades são informadas sobre as indicações e contra-indicações das vacinas. Não existe, porém, obrigatoriedade de questionar cada paciente sobre sua saúde antes de ser imunizado.

O ministério não recomenda a vacina contra febre amarela para gestantes, bebês com menos de 9 meses, pessoas com imunodeficiências resultante de doenças (como o lúpus e infecção pelo HIV) ou terapêutica. Aqueles que têm alergia grave a ovo de galinha, gelatina e eritromicina (antibiótico que faz parte da composição da vacina) e pessoas com antecedentes de reação alérgica a dose prévia da vacina também não devem ser imunizadas. A decisão de vacinar pessoas que tenham contra-indicações, inclusive bebês e mulheres amamentando, deve ser feita pelo médico.

O professor de Infectologia da UFRJ e diretor-presidente do Instituto Prevenir É Saúde, Edimilson Migowski, explicou que a vacina contra febre amarela faz parte do grupo que têm entre seus componentes microorganismos atenuados em laboratório, assim como as contra sarampo, tuberculose, poliomielite, entre outras. Por isso, segundo ele, há restrições para pacientes com imunodeficiências.

- Mesmo que a vacina use componentes atenuados, a pessoa pode estar tão debilitada que seu organismo não impede a replicação do vírus, o que pode causar a febre amarela.