Título: Futuro de juros
Autor: Leitão, Míriam
Fonte: O Globo, 01/02/2008, Economia, p. 24

No país da crise, os juros caem. E duas vezes seguidas. No Brasil, os juros não cairão tão cedo, e há quem acredite que eles podem subir. Essa foi a interpretação dada por uma parte do mercado à ata do Copom, que fala em "ajustes dos instrumentos de política monetária" e aumento "sensível" das projeções de inflação. A taxa subiu, mas é cedo ainda para falar em alta dos juros por aqui.

A ata do Copom não deixou dúvidas do recado que o Banco Central brasileiro quis passar: o de que está muito mais preocupado com a inflação do que estava antes. No parágrafo 18, a ata diz que a "projeção para o IPCA em 2008 elevou-se sensivelmente em relação ao valor considerado na reunião do Copom de dezembro, e agora se encontra em torno do valor central de 4,50%". O fato é que "elevou-se sensivelmente", mas está exatamente no centro da meta.

A inflação subiu no fim do ano, porém fechou em cima da meta. Nos índices mensais, a taxa está caindo em relação ao mês anterior. Esta semana, o IGP-M surpreendeu. Muita gente achava que ficaria abaixo de 1%, e não ficou. O IPCA que vai ser divulgado no dia 13 vai mostrar queda em relação ao mês anterior, mas o acumulado de 12 meses vai subir.

- Agora a inflação começará a ficar ligeiramente acima da meta, mas é porque, nos primeiros meses de 2007, ela ficou baixa e agora os números, mesmo declinantes, serão maiores que os dos mesmos meses do ano passado. O acumulado estará subindo durante todo o primeiro trimestre - disse Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio.

O que deixou o mercado mais impressionado foi o parágrafo 23, em que o Copom diz que "há sinais de aquecimento da economia" e que "elevaram-se os riscos de concretização de um cenário benigno". E por isso: "o Comitê reitera que está pronto para adotar uma postura diferente, por meio do ajuste dos instrumentos de política monetária, caso venha a se consolidar um cenário de divergência entre a inflação projetada e a trajetória das metas". O que é isso, a não ser o óbvio? Se houver o risco de não-cumprimento da meta, o Banco Central subirá os juros. É o que ele sempre diz, e que os bancos centrais normalmente avisam.

Se isso, de fato, acontecer, o BC ficará numa situação curiosa de estar elevando as taxas aqui, enquanto os juros estarão caindo no país que é o centro da crise mundial. Para o histórico do Brasil, os juros são baixos, mas 11,25% ficam parecendo um aleijão perto dos 3% dos Estados Unidos.