Título: Carne: governo parte para o ataque
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 02/02/2008, Economia, p. 24

Lula está convencido de que embargo europeu é comercial e não sanitário.

BRASÍLIA. O governo brasileiro decidiu partir para o ataque no impasse com a União Européia (UE), bloco que anunciou, esta semana, que não compra mais carne bovina in natura do Brasil a partir deste mês. O Ministério da Agricultura vai exigir regras claras, com transparência e um calendário de liberações transformado em um tratado bilateral. Caso contrário, não haverá acordo. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao se manifestar pela primeira vez sobre o caso, usou um tom bastante crítico.

- Eles (os europeus) têm a vaca louca e ficam dando palpite aqui - disse Lula a peemedebistas do Centro-Oeste.

Lula sugere que deputados visitem Parlamento Europeu

Tendo como interlocutores um grupo de deputados federais e o governador do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, Lula reforçou a impressão recorrente entre pecuaristas e técnicos do Ministério da Agricultura: o embargo é mais comercial do que sanitário, porque a carne brasileira está conquistando cada vez mais espaço.

O presidente acredita que assunto deve ganhar uma vertente política e, por isso, sugeriu aos parlamentares que se unam nesse esforço ao Itamaraty e ao Ministério da Agricultura. Ele propôs que uma comissão de deputados visite o Parlamento Europeu para explicar a situação.

- Temos que levantar nossa voz porque, se ficarmos pacatos e cordatos, não vamos levantar embargo algum - afirmou Puccinelli.

Na área técnica do governo, a estratégia é explorar o fato de que quase metade da carne bovina consumida pelos europeus é do Brasil. Ou seja, são eles que mais sairão perdendo. Outra orientação é deixar claro à UE que a missão de técnicos europeus que chegará ao país no dia 25 poderá até fazer uma vistoria por amostragem nas fazendas candidatas a se habilitar a vender carne para a Europa, mas não terá o direito de interferir no processo de seleção das propriedades.

A expectativa do governo e de alguns pecuaristas é que o tamanho da lista de fazendas autorizadas - que a UE propôs inicialmente conter 300 propriedades - aumente no decorrer da negociação. Se isso não acontecer, disse uma fonte que está à frente dessa questão, a UE terá de dizer o dia e o mês em que as portas da região serão abertas a novas levas de fazendeiros brasileiros.

No Palácio do Planalto, no Itamaraty e no Ministério da Agricultura, espera-se ainda a manifestação de países da União Européia que, ao contrário de Irlanda e Reino Unido, querem negociar e continuar comprando carne do Brasil. Esse apoio já foi anteriormente declarado pelos governos de Espanha, Alemanha e França.

Se, por um lado, o governo brasileiro decidiu usar um tom mais firme com os europeus, a linguagem para se comunicar com os demais mercados compradores de carne in natura foi mais defensiva. Ontem à tarde, o Ministério da Agricultura divulgou uma nota sob o título "Carne bovina brasileira é saudável e não representa risco sanitário". Na nota, o ministério destaca que o Brasil exporta carne bovina in natura há mais de 70 anos para a UE, sem registro de problema de saúde pública associado ao produto.