Título: Conexão direta com o Planalto
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 04/02/2008, O País, p. 3

PMDB briga por cargos no setor elétrico enquanto Jader Barbalho garante indicações.

Enquanto caciques do PMDB se engalfinham para garantir suas indicações para as estatais do setor elétrico, o deputado paraense Jader Barbalho estabeleceu uma ligação direta com o Planalto. E já garantiu a nomeação de Lívio Rodrigues, seu homem de confiança há décadas e atual chefe do Detran no Pará, para comandar a Eletronorte.

Jader já apareceu no noticiário sendo preso e algemado por causa das denúncias de envolvimento no rombo bilionário na extinta Sudam e no Banco da Amazônia (Basa), na década de 90. Por onde passou - duas vezes governador do Pará, duas vezes ministro ou no comando de estatais - ele e sua turma deixaram um rastro: acusações de fraudes e desvio de dinheiro público, segundo denúncias em processos que ainda responde. Alvo em inúmeras ações que nunca deram em nada - há quatro tramitando ainda no Supremo Tribunal Federal -, Jader foi forte no governo Fernando Henrique, caiu em desgraça, após renunciar ao mandato de senador para não ser cassado, mas voltou ao poder no governo Lula. E com força.

Ele tenta ser discreto, evita entrevistas, mas articula ativamente nos bastidores do PMDB e do governo. Nunca perdeu a cumplicidade da cúpula do governo Lula, é apontado por alguns como conselheiro do presidente, e é um dos manda-chuvas do PMDB na distribuição dos cargos federais. Essa semana, em reunião do comando peemedebista para discutir os cargos, o grupo ligado ao senador José Sarney (AP), que teve a indicação de Evandro Coura vetada para a Eletrobrás, tentou uma rebelião contra Jader, sem sucesso. Ele não estava presente à reunião.

- Ninguém entendia como ele continuava tão forte a ponto de indicar a Eletronorte e mais uns três cargos no governo, se não é mais líder nem ocupa posição de destaque no partido. As pessoas estavam intrigadas com isso. A sobrevivência dele é realmente impressionante. Tem um fôlego danado - observa o presidente do Senado, Garibaldi Alves (RN).

Governadora diz que aliança é com PMDB

A conclusão no meio político é que Jader se fortaleceu junto a Lula por causa da ajuda dada na campanha para a reeleição no Pará. Sua atuação é mais forte ainda no governo da petista Ana Julia Carepa, no Pará.

- O Jader está lá governando o Pará. Está deitando e rolando - disse um ministro peemedebista.

- A parceria deste governo democrático e popular não é com o deputado Jader Barbalho e sim com o PMDB, e é reflexo de uma aproximação política conduzida nacionalmente pelo presidente Lula, acatada em nosso estado pelo PT para enfrentar um domínio político de doze anos do PSDB, que acarretou ao estado do Pará graves prejuízos econômicos e sociais - defende-se Ana Júlia.

A turma que Jader botou no governo do Pará não demorou para figurar no noticiário policial. Entre outros, ele nomeou o médico Halmélio Sobral Neto para a Secretaria de Estado de Saúde; Francisco das Chagas, para a Secretaria de Obras; Lívio de Assis, para a presidência do Detran; seu velho amigo e colega de colégio Arthur Tourinho - ex-superintendente da Sudam, indiciado em vários inquéritos da Polícia Federal por fraudes e desvios que chegam a R$1.7 bilhão - para a presidência da Junta Comercial do Pará; Lúcia Penedo para a Secretaria de Estado de Esportes e Lazer; e ainda a ex-deputada federal Ann Pontes, para a presidência da Paratur, Companhia Paraense de Turismo.

Halmélio Sobral Neto, o ex-diretor Administrativo e Financeiro da Secretaria de Saúde, Paulo Massoud, e a presidente da Comissão de Licitação da Secretaria, Antonio Marcial Abud Ferreira, são acusados de improbidade administrativa em ação proposta pela procuradora da República em Santarém, Carmen Sant"Ana. As irregularidades atribuídas na ação teriam sido em relação ao uso indevido de R$7,8 milhões do Fundo Nacional de Saúde.

- No Pará, o PMDB tem mais de 30 prefeitos. Isso demonstra a força política do partido. Quanto às denúncias de corrupção que eventualmente envolvam qualquer membro do governo do estado, serão apuradas pelo próprio governo e pelas instâncias competentes - justifica Ana Julia.

- Apesar de toda a ficha corrida, o Jader conhece muito dos meandros da política fisiológica. É uma pessoa que não tem escrúpulos, e está cobrando a fatura. Nessas campanhas, deve ter visto muita coisa esquisita do Lula e da Ana Júlia, que agora pagam a fatura sem reclamar - observa o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

O presidente da Eletronorte, Carlos Nascimento, foi indicado por Jader, mas agora ele quer substituí-lo por Lívio Rodrigues. A avaliação de peemedebistas é que Jader acha que Nascimento assumiu uma postura muito independente. Além da Eletronorte e dos cargos no governo do Pará, no governo federal ele detém o controle da Fundação Nacional de Saúde, a diretoria Corporativa da Eletronorte, a diretoria de Negócios do Basa, a diretoria de Tecnologia dos Correios e a gerência dos Correios do Pará.

O poder de Jader no Pará é reforçado pela ex-mulher e deputada federal Elcione Barbalho (PMDB), pelo filho Hélder, prefeito de Ananindeua, e pelo sobrinho José Priante, um ex-deputado que ele tenta emplacar em alguma estatal. Tem ainda um império de comunicação. A concessão da RBA Rede Brasil Amazônia de Televisão Ltda (repetidora da Rede Bandeirantes), Belém Radiodifusão Ltda (três emissoras diferentes) Radio 99 FM, Radio Diário FM e Radio Clube do Pará AM). É também proprietário do segundo maior jornal do estado, o Diário do Pará.

Ano passado, foi citado no documentário "Send a Bullet" ( Manda Bala) do norte-americano Jason Khon, premiado no festival de Sundance. As referências são sobre seu envolvimento com o escândalo das pererecas, o ranário da esposa, Márcia Centeno, que se beneficiou de um empréstimo milionário da Sudam para o empreendimento que nunca existiu.