Título: Líderes temem que descontentes apóiem CPI
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 04/02/2008, O País, p. 4

BARGANHA NO CONGRESSO:"Tem que liberar logo (os cargos), para não se gerar a CPI dos rancorosos", diz peemedebista

Governo trabalha para que insatisfação com nomeações não leve base a pedir investigação sobre cartão corporativo

BRASÍLIA. Descontentes com a demora do governo para atender aos pedidos de cargos na administração pública - promessa para antes da volta dos trabalhos do Congresso - deputados da base governista poderão usar a CPI dos Cartões Corporativos como moeda de troca. Cientes do problema, os líderes governistas querem evitar a contaminação dos dois temas e vão procurar os deputados, orientando-os a não assinar o requerimento de criação da CPI, de autoria do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).

"Vou cuidar para que não confundam as coisas"

O tucano quer investigar os gastos do governo com os cartões, cujas irregularidades já resultaram na demissão da ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.

- Já estou pedindo que os deputados do PMDB não assinem e nesta quinta-feira vou cuidar para evitar que não se confundam as coisas. As pessoas têm que entender que integram o governo e têm responsabilidade. Uma CPI dessa gravidade, fazer isso por conta de insatisfação? O PMDB não vai assinar - avisou o líder da bancada, Henrique Eduardo Alves (RN).

O peemedebista admite, no entanto, que esse tipo de artifício pode ser usado pelos insatisfeitos se o governo não resolver de uma vez as pendências do PMDB e de outros partidos da base. Todas as vezes que fazem referência às nomeações os líderes de PP, PR e PTB lembram que aguardam a definição há mais de um ano.

- Lógico que existe (o risco de insatisfeitos assinarem a CPI). Por isso tem que liberar logo, até para não se gerar a CPI dos rancorosos. Essa é uma CPI perigosa, estamos em ano eleitoral - acrescentou o líder.

No PMDB, há pendências de cargos regionais na Agricultura e Saúde, e cargos nacionais - Eletrobrás e a nomeação de Jorge Zelada, defendido pela bancada da Câmara, para a diretoria Internacional da Petrobras. Um importante interlocutor do partido afirma que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) tem dificultado a solução para os nomes da área de energia.

Segundo líder, negociações são feitas com Lula

Henrique Eduardo Alves, no entanto, avisa que as negociações estão sendo feitas diretamente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e que a pendência da diretoria da Petrobras está resolvida.

Outro peemedebista, o deputado Eduardo Cunha (RJ) destaca o poder maléfico de uma CPI como esta, que poderá ser usada politicamente na eleição municipal e tem forte apelo jornalístico. Cunha avisa que não assinará a CPI e conversará com deputados ligados a ele para que também não assinem. Mas afirma que o governo deve trabalhar para cumprir os acordos feitos com a base aliada:

- O governo não deve deixar a CPI ser instalada. Estamos em ano eleitoral, e não podemos deixar que isso seja usado contra os candidatos da base. E deve tomar medidas para controlar o uso dos cartões.

O líder do PR, Luciano de Castro (RR), também avisou que a orientação é para que o partido não assine a CPI. Ele diz que a maioria seguirá a orientação, embora admita que um ou outro insatisfeito possa apoiar o requerimento. O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, tem dito que trabalha para que as nomeações sejam feitas até o final deste mês.