Título: Gastos de segurança de Lurian fortalecem CPI
Autor: Camarotti, Gerson; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 05/02/2008, O País, p. 5

Cartão corporativo que serve à filha de Lula teve R$55 mil em compras no ano passado; oposição quer investigar.

BRASÍLIA. Apesar da ofensiva do Planalto para evitar uma agenda negativa, que incluiu a saída da ex-ministra da Igualdade Racial Matilde Ribeiro, o governo terá grande dificuldade para segurar uma CPI para investigar gastos com os cartões corporativos. A divulgação de novos dados, que indicam que o cartão foi usado para despesas do segurança da filha do presidente Lula, Lurian Cordeiro da Silva, acirraram os ânimos na oposição.

O jornal "Folha de S.Paulo" noticiou que em 2007 um dos seguranças de Lurian fez gastos com o cartão corporativo, em Florianópolis, que somam R$55 mil, em lojas de autopeças, material de construção e até numa livraria. A estratégia do PSDB e do DEM é forçar a instalação, ainda em fevereiro, de uma CPI mista do Cartão Corporativo.

Plano B da oposição é CPI só do Senado

Caso o governo consiga barrar uma comissão composta por deputados e senadores, a oposição já trabalha com um plano B: a criação de uma CPI exclusiva no Senado, onde o governo tem maioria frágil. A decisão foi tomada no carnaval.

O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), considera que os novos dados tornam a CPI inevitável:

- Não é de hoje que tentávamos avançar nos gastos dos cartões. Temos que saber até onde foi a irresponsabilidade do governo. É preciso ter transparência com o dinheiro público. Por isso, vamos criar uma CPI onde houver melhor condições para a sua instalação.

A avaliação de tucanos e democratas é que o fato de a ex-ministra Matilde ter deixado o governo não esgotou o assunto nem botou um ponto final nos escândalos. Gastos da Presidência feitos em supermercados, açougues e até mesmo em delicatessen chamaram a atenção da oposição. O decreto de criação do cartão é claro: só pode ser usado em despesas de emergência não previstas, viagens, transporte, hospedagem e alimentação, o que não inclui nenhum dos gastos da segurança de Lurian.

- Não quero particularizar o debate. O problema não é a Matilde ou a Lurian. Os gastos são milionários e sem explicação. Há um uso irregular do cartão corporativo que não leva em conta o interesse público. Queremos saber onde houve farra com o dinheiro público. Se o governo insistir em barrar uma CPI mista, estamos prontos para fazer uma CPI só no Senado - advertiu o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM).

O tucano propôs o detalhamento dos gastos desde o início da utilização do cartão, no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

O senador Raimundo Colombo (DEM-SC), presidente da CPI das ONGs, também defende uma investigação ampla. Ele adverte que, além dos gastos feitos pelo segurança de Lurian, a filha de Lula já está na mira de sua CPI por causa dos gastos da ONG ligada a ela.

- Tudo que é pouco transparente dá margem a esse tipo de abuso e aproveitamento com os recursos públicos. A Lurian liderou a ONG Rede 13, envolvida em um monte de escândalos de desvio de dinheiro público - ressaltou Colombo.

Para o líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES), os gastos feitos para atender a filha de Lula são graves. Ele criticou também a atitude do governo de tentar barrar a divulgação de gastos do cartão corporativo.

- Os gastos ainda estão na penumbra. Tem que ter mais transparência - observou Casagrande, cauteloso com a proposta de uma CPI. Ele teme que a instalação de uma comissão vire objeto de luta política.