Título: Vento a favor de Lula
Autor: Nunes, Vicente; Pereira, Daniel
Fonte: Correio Braziliense, 28/04/2009, Economia, p. 14

Inflação em queda, taxa de juros próxima de um dígito, programa habitacional, redução de imposto e a retomada do crescimento econômico devem ajudar o candidato governista nas eleições de 2010

Apesar do susto com o câncer enfrentado pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e ciente de que pode haver complicações com a candidatura dela à sucessão do presidente Lula, o governo vem traçando uma série de cenários para o próximo ano, para medir as reais chances de vitória nas urnas. E, ao contrário do que pensa a oposição, a economia, mesmo solapada pela crise mundial, poderá dar uma mão e tanto à Dilma, caso se repita um quadro semelhante ao que se viu entre 2005 e 2006, quando Lula foi reeleito, independentemente da enxurrada de denúncias de corrupção em sua administração. ¿Felizmente, tudo conspira para que tenhamos mais um ciclo eleitoral favorável ao candidato governista¿, diz um dos ministros mais próximos de Lula. Em 2005, ressalta ele, o crescimento econômico não foi lá essas coisas: 3,2%. Mas a inflação estava em forte queda, fechando aquele ano em 5,7% e caindo para 3,1% em 2006. Com isso, o poder de compra dos mais pobres, os maiores eleitores de Lula, deu um salto expressivo, potencializado pela queda dos juros e pelo expressivo aumento da oferta de crédito. A taxa básica (Selic), que havia fechado 2005 em 18%, cedeu até 13,25% no fim de dezembro seguinte. Naqueles dois anos, houve ainda um forte incremento do Bolsa Família e do salário mínimo. ¿Isso deu uma sensação de bem-estar enorme à população, que preferiu dar seu voto de confiança para mais um mandato de Lula¿, acrescenta o ministro.

Em 2009, o governo reconhece que o crescimento da economia será pífio ¿ de no máximo 1%. Mas, segundo os técnicos do Ministério da Fazenda, tudo indica que a partir do segundo semestre a atividade econômica estará com o fôlego renovado, crescendo a um ritmo entre 3% e 4% ao longo de 2010. Para que esse cenário se confirme, o governo conta com os reajustes do funcionalismo público, a ampliação do Bolsa Família e o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, que promete entregar 1 milhão de moradias às famílias de baixa renda. Para ¿turbinar¿ a candidatura governista, a inflação tenderá a ficar próxima dos 4% e o Banco Central está prestes a entregar uma histórica taxa Selic de um dígito (abaixo de 10%).

¿Realmente, são grandes as chances de a economia criar mais um ciclo eleitoral favorável ao governo Lula¿, afirma o economista-chefe da Corretora Convenção, Fernando Montero. ¿Além de os juros de um dígito serem uma referência poderosa, o candidato governista poderá contar com um comportamento tranquilo do dólar, que significará comida mais barata, renda disponível e salários elevados¿ ressalta.

Desemprego No entender do economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, nem mesmo o aumento do desemprego será visto como um problema. A taxa atual, de 9%, tenderá a recuar à medida que a economia for se reaquecendo. E, mesmo que permaneça nesse patamar, o índice ficará abaixo dos 10% de 2006.

Montero também ressalta que, com as recentes reduções de impostos, a carga de tributos cairá em 2009, o que será divulgado no terceiro trimestre de 2010. ¿Portanto, sobrarão poucas bandeiras `ortodoxas¿ para a oposição¿, destaca. Vários analistas vêm chamando a atenção para a hipótese de o Banco Central aumentar os juros em 2010 para conter pressões inflacionárias originárias de gastos púbicos crescentes. ¿Eu não vejo motivos para os juros subirem¿, emenda Freitas Gomes.