Título: Bird reduz crescimento da China em 2008
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Fonte: O Globo, 06/02/2008, Economia, p. 17

Moody"s diz que queda do dólar vai melhorar avaliação de risco de emergentes.

PEQUIM e RIO. O Banco Mundial reduziu sua projeção de crescimento da China para este ano de 10,8% para 9,6% por conta dos efeitos da crise das hipotecas de alto risco americanas na economia mundial. Trata-se da primeira vez, nos últimos seis anos, que o Bird prevê um crescimento da economia chinesa abaixo de 10%.

Ainda assim, o banco aposta que o crescimento no consumo doméstico chinês, turbinado por aumentos reais na renda per capita das populações urbana e rural, possa compensar em parte a queda a ser observada nos saldos comerciais e, em menor grau, nos investimentos estrangeiros.

- A desaceleração da economia global vai afetar o crescimento da China tanto nas exportações quanto nos investimentos para setores voltados para a exportação - afirmou o diretor do Bird para a China, David Dollar. - Mas a demanda doméstica vai continuar robusta.

Turquia, Uruguai e Filipinas estão entre os países beneficiados

Apesar da crise nos mercados financeiros com a desaceleração da economia americana, a desvalorização do dólar deve melhorar a classificação de risco (rating) de diferentes países emergentes, como o Brasil e a China. A análise faz parte de um relatório feito pela Moody"s, uma das principais agências de classificação de risco do mundo. É que com a divisa mais barata em relação às outras moedas há uma redução na dívida externa em dólar, tornando o país menos endividado e mais seguro para o estrangeiro.

Segundo a Moody"s, a queda "ordenada" do dólar vai gerar um impacto positivo na dívida de países como Turquia, Uruguai e Filipinas. A agência ressalta que no Brasil, na Colômbia e no Peru, o câmbio pode, no mínimo, trazer ventos favoráveis para a trajetória da dívida externa.

- Uma depreciação mais forte do dólar pode criar uma pressão positiva para as avaliações de diversos países emergentes - disse o vice-presidente da Moody"s, Dietmar Hornung, e autor do relatório. Mas ressalva:

- Uma vez que a estrutura da dívida tem se mostrado cada vez mais dominada por emissões em real, o impacto da queda do dólar na dívida brasileira não será suficiente para grandes mudanças nos indicadores que medem seu peso na economia, como a relação da dívida no Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país). As perspectivas continuam dominadas pela ordem fiscal.

Este ano, o dólar continuou caindo e acumula desvalorização de 1,74%. Em 2007, a divisa recuou 16,85%. Segundo a Moody"ss, se o dólar cair ainda mais e ficar em 0,50 (hoje, a cotação é de 0,6818), a dívida externa em relação ao PIB do Brasil vai cair de 17%, em 2007, para 11,3%, este ano.

Nas últimas duas décadas, os países emergentes se endividaram muito em dólar. Com isso, estavam mais vulneráveis a choques externos. Agora, as coisas mudaram, diz a Moody"s. Para o relatório, a dívida externa passou de "pecado original" para "virtude", já que suas moedas têm se apreciado em relação ao dólar.

"O efeito vai depender de como os países vão usar o dólar fraco para reduzir o peso da dívida na economia", ressalta o relatório. Com a moeda em patamar mais baixo, diversos países estão tirando proveito e comprando dólar para diminuir sua exposição em moeda estrangeira, continua a Moody"s.

Para os EUA, a queda da moeda também é benéfica, pois ajuda a reduzir o déficit em conta corrente, embora possa haver implicações para as decisões dos investimentos estrangeiros. Segundo Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), e Fabio Knijnik, do BES Investimento, a desvalorização do dólar impulsiona a entrada de dólares no país.

- Para o investidor estrangeiro, compensa aplicar em reais. Por isso, a queda do dólar pode acelerar o investment grade do Brasil. Ao entrar mais dinheiro no país, o dólar cai e a inflação fica sob controle - disse Freitas.

(*) Correspondente