Título: Sinal de recessão nos EUA
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Fonte: O Globo, 06/02/2008, Economia, p. 17

AMEAÇA GLOBAL

Setor de serviços tem queda recorde. Temor com economia faz bolsas caírem até 5%

NOVA YORK, WASHINGTON, PARIS e TÓQUIO

Otemor de recessão nos Estados Unidos voltou a abalar os mercados ontem, que chegaram a cair até 5%. O estopim desta vez foi a queda no índice que mede a atividade do setor de serviços americano. O Instituto de Gerenciamento de Estoques (ISM, na sigla em inglês) informou que seu índice não-manufatureiro caiu de 54,4 em dezembro para 41,9 em janeiro - o menor patamar desde outubro de 2001, durante a última recessão nos EUA. A expectativa era de uma marca de 53 pontos. Foi a maior queda mensal na história do índice, apurado desde 1997. O indicador não ficava abaixo de 50, o que mostra retração da economia, desde março de 2003.

- A recessão chegou de fato - afirmou Jane Caron, economista-chefe na Dwight Asset Management.

Para Stephen Stanley, economista-chefe da RBS Greenwich Capital, os dados do ISM são um sinal explícito de que a economia está desacelerando. Em Wall Street, o Dow Jones fechou em queda de 2,93%. Nasdaq e S&P caíram 3,08% e 3,20%, respectivamente.

O índice de emprego do ISM caiu de 51,8 para 43,9 em janeiro, corroborando os dados de trabalho dos EUA divulgados na semana passada, que indicaram a primeira contração mensal no mercado de trabalho em quatro anos. As novas encomendas às fábricas recuaram de 53,9% para 43,5 pontos, o menor nível desde outubro de 2001.

- O setor de serviços tem um peso muito grande na economia, e esta é bem uma leitura de recessão - disse à CNN Keith Hembre, economista-chefe da First American Funds.

Apesar da preocupação dos investidores, o secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, afirmou ontem acreditar que a economia americana terá um pequeno crescimento a curto prazo e que o mercado de capitais vai se recuperar de um período difícil.

- A economia dos Estados Unidos é diversa e resistente, e nossos alicerces de longo prazo são fortes. Creio que a economia continuará a crescer, embora num ritmo mais lento que nos últimos anos - disse Paulson ao Comitê de Finanças do Senado, acrescentando que o Tesouro está monitorando as bolsas. - Tenho grande confiança em nossos mercados. Eles se recuperaram de períodos problemáticos similares no passado, e o farão novamente.

Kerviel: "Não serei bode expiatório do Société"

Já o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de Richmond, Jeffrey Lacker, disse que os sinais de desaceleração da economia podem levar a um novo corte de juros pela autoridade monetária. A próxima reunião do Fed será em 18 de março.

- Vejo a possibilidade de uma recessão branda, similar às duas últimas que atravessamos, ou seja, superficial e com recuperação breve - disse Lacker.

Na Europa, a Bolsa de Madri despencou 5,19%. Além dos dados americanos, o índice do setor de serviços espanhol caiu de 51 para 44,2 pontos no mês passado. Em Londres, o FTSE recuou 2,63%, enquanto o DAX, de Frankfurt, e o CAC, de Paris, caíram 3,36% e 3,96%, respectivamente. Em Paris, o pivô da crise do Société Générale, Jérôme Kerviel, deu sua primeira entrevista desde que o escândalo veio à tona.

- Nunca tive ambições pessoais. O objetivo era ganhar dinheiro para o banco. Assumo minha responsabilidade mas não serei o bode expiatório do Société Générale - disse Kerviel à agência AFP.

As bolsas na Ásia, devido ao fuso horário, fecharam com baixas reduzidas, sendo que a de Seul subiu 0,4%. O índice Nikkei, de Tóquio, recuou 0,8%. A Bolsa de Hong Kong caiu 1,5% e a de Cingapura, 1,8%. O temor de recessão fez o preço do petróleo recuar. O barril do tipo leve americano cedeu 1,82%, para US$88,41, e o do tipo Brent caiu 1,85%, para US$88,82. No Brasil, os mercados estavam fechados.