Título: Oposição chama de golpe e diz que vai insistir na criação de CPI mista
Autor: Braga, Isabel; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 07/02/2008, O País, p. 4

GASTOS SEM CONTROLE: "Se quiserem, investigaremos até Pedro Álvares Cabral".

Regimento do Senado permite que duas comissões tenham o mesmo objetivo.

BRASÍLIA. A iniciativa dos governistas de propor a criação de uma CPI no Senado para investigar irregularidades no uso do cartão corporativo provocou forte reação dos líderes de oposição, que vão continuar insistindo na criação de uma CPI mista - na Câmara e no Senado - apresentada semana passada pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP). Classificando o requerimento assinado pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), de golpe e tentativa de uma "pizza geral", parlamentares do DEM, do PSDB e do PPS prometeram brecar qualquer tentativa do governo de impedir uma investigação profunda.

- Senado é uma coisa, Congresso é outra. Quando o líder do governo cujo uso dos cartões será investigado toma a iniciativa, bem intencionado não está - reagiu Sampaio.

- O governo está tentando dominar a situação. Mudaram a estratégia para tentar impedir que a oposição exerça sua força. Vamos recolher as assinaturas para formação de uma CPI mista, que tem mais força e maior poder de investigação - disse o líder do DEM na Câmara, Onyx Lorenzoni (RS).

Regimentalmente, segundo a secretária-geral da Mesa do Senado, Cláudia Lyra, não há impedimento para o funcionamento de duas CPIs - uma do Senado e uma mista - para investigar o uso irregular do cartão. Mas, enfatiza, é algo sem precedente. O presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Marco Maciel (DEM-PE), também não vê impedimentos regimentais, mas afirma que, do ponto de vista político, o bom senso deve prevalecer:

- Se, por acaso, houver assinaturas suficientes para uma CPI mista, ela deve prevalecer, por ser mais ampla.

"Governo sabia que no Senado seria inevitável"

A CPI instalada ontem teve a assinatura de cinco senadores da oposição, três tucanos - Álvaro Dias (PR), Cícero Lucena (PB) e Eduardo Azeredo (MG) - e dois democratas, Heráclito Fortes (PI) e Demóstenes Torres (GO). A CPI do Senado vai investigar gastos desde 1998, englobando os anos do governo Fernando Henrique Cardoso. Álvaro Dias disse que assinou por ser favorável à instalação de qualquer CPI:

- O governo sabia que no Senado a CPI seria inevitável. Se antecipou com o objetivo de criar confusão e tentar preservar a Presidência da República.

O senador Heráclito Fortes afirmou não temer qualquer investigação:

- É um tiro no pé. Sempre que tentam jogar para trás, pegar o Fernando Henrique, se dão mal.

O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) emendou:

- Se quiserem, podemos investigar até Pedro Álvares Cabral.

O tucano José Aníbal (PSDB-SP), que deve assumir a liderança do partido na Câmara no lugar de Antonio Carlos Pannunzio (SP), avalia que a estratégia é um atestado de que o governo está preocupado com os rumos que a investigação sobre o uso dos cartões deve tomar. Pannunzio afirmou que os tucanos não temem o recuo nas investigações:

- Toda vez que se fala em CPI, vêm com isso. Não temos nenhum receio, e nossa posição é republicana.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), divulgou nota na qual diz que o PSDB não compactuará com "nenhuma farsa de setores governistas": "O PSDB não compactuará com nenhuma farsa, com nenhuma tentativa de setores governistas de, pretensamente antecipando-se às oposições, propor CPI para transformar em "pizza" uma investigação sobre o escândalo dos cartões corporativos."

COLABORARAM Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos