Título: Caso dos cartões ofusca mensagem
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Fonte: O Globo, 07/02/2008, O País, p. 8

Na abertura do ano legislativo, presidente exalta números da economia.

BRASÍLIA. Com a iniciativa do líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), de coletar assinaturas para criar no Senado uma CPI a fim de investigar irregularidades no uso de cartões corporativos, a sessão de abertura do ano legislativo foi relegada ontem a segundo plano. A atenção dos parlamentares ficou voltada para Jucá, enquanto o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), primeiro-secretário, lia a mensagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Legislativo, na qual, como de praxe, foram ignorados assuntos polêmicos, como a atual crise do cartão. O texto faz um balanço das ações do governo ano passado e estabelece como um dos desafios a aprovação da reforma tributária.

Na mensagem, Lula exaltou os números positivos da economia que indicam crescimento, em 2007, superior a 5%. Prometendo priorizar este ano investimentos em segurança pública, educação e saúde, o presidente destacou os US$180 bilhões de reservas acumuladas até dezembro de 2007 e a criação de de postos de trabalho.

Passou quase despercebida a saia justa provocada pelo presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), que criticou a intromissão do Executivo e do Judiciário na vida legislativa.

Sem se incomodar com a cara fechada da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, Garibaldi condenou o excesso de medidas provisórias editadas pelo governo, sem atender ao critério de urgência ou relevância. Depois foi a vez de a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Ellen Gracie, ouvir críticas ao Judiciário.

- Não somos contrários ao papel das Cortes de interpretar o espírito constitucional em matéria política, mas não podemos admitir que, sob o argumento da ausência de norma, o Judiciário extrapole sua missão constitucional e passe a operar uma agenda legislativa - disse Garibaldi, reconhecendo, contudo, que a omissão do Congresso propiciou esse quadro.

Garibaldi critica tentativa de criação de CPIs

Garibaldi cobrou do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), a apreciação de emenda aprovada pelos senadores que altera regras de tramitação das MPs. Chinaglia ficou de encaminhar o pedido aos líderes:

- Com a determinação dos congressistas chegaremos a um consenso que garanta a governabilidade.

Garibaldi também criticou o afã de alguns parlamentares em instalar novas CPIs.

- Já está na hora da oposição saber que algumas CPIs não têm urgência e relevância, assim como algumas MPs. A oposição precisa colaborar e saber que tem hora que o interesse nacional se impõe - disse o senador no pronunciamento, mudando de opinião mais tarde: - Avalio a iniciativa (do governo) como muito saudável. O governo está certo, porque a Nação quer que tudo seja apurado.