Título: Governo apóia campanha da CNBB contra aborto
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 07/02/2008, O País, p. 10

Gilberto Carvalho participa de lançamento na entidade e evita polemizar com Temporão, que discorda da Igreja

Evandro Éboli

BRASÍLIA. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou ontem a Campanha da Fraternidade deste ano, que condena a legalização do aborto. O tema da campanha é a defesa da vida e o lema é "Escolhe, pois, a vida". A campanha ganhou a adesão da Presidência da República e expôs uma divisão no governo. Ontem, o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, que participou do anúncio na CNBB, afirmou que o presidente Lula e seu governo apóiam a campanha. Setores do Executivo pensam de outra forma: o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, causou polêmica ano passado ao defender a interrupção voluntária da gravidez.

- O aborto não é um assunto que divide o governo. O presidente Lula já disse que é contra, mas que a sociedade tem que discutir. O governo apóia abertamente esta campanha (da CNBB) - disse Carvalho.

Quando se pronunciou sobre o assunto, o presidente disse que o aborto ilegal é um problema de saúde pública e que precisava de uma solução. No encontro, Carvalho sentou-se ao lado do secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, que também prestigiou o lançamento da campanha.

Carvalho disse que o governo considera o tema extremamente importante. Carvalho, ex-seminarista, é contra o aborto:

- Tenho três filhos e estou na espera de mais um, por adoção. A mensagem do governo é que ele faz uma defesa da vida, com suas políticas sociais.

O chefe de gabinete da Presidência evitou polêmica com Temporão, mas afirmou que o sistema de saúde deve atender às mulheres que praticam o aborto ilegal.

- O debate existe. É evidente que o Ministério da Saúde tem que acolher a todos. Não pode negar o socorro.

CNBB vai lutar contra aprovação de projeto

O secretário-geral da CNBB, dom Dimas Lara Barbosa, disse que a entidade vai atuar contra a aprovação do projeto que legaliza o aborto e está pronto para ser votado na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara. O parecer do relator, Jorge Tadeu Mudalen (PMDB-SP), que é evangélico, foi contrário.

- Não vamos excluir essa ação. Somos contra o projeto, que está no Congresso desde 1989 - disse dom Lara.

O secretário afirmou que o número de mulheres que morrem vítimas de aborto ilegal é menor do que o anunciado pelo governo.

- Não é verdade que se trata de um problema de saúde pública. Legalizar o aborto clandestino não irá reduzir o índice de mortalidade materna no Brasil.

Dom Dimas disse que a Igreja Católica pode fazer campanha para proibir a realização dos dois tipos de aborto hoje permitidos pela lei: casos de estupro e de risco à saúde da mãe.

Presente na CNBB, a coordenadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, fez um discurso contra o aborto e disse que, para se reduzir a mortalidade materna no país, é necessária a oferta de um bom serviço de atendimento pré-natal no sistema de saúde.