Título: Planalto tenta intimidar a oposição na CPI
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 08/02/2008, O País, p. 8

GASTOS SEM CONTROLE: "Qual o problema em investigar os últimos 10 anos? Quem não deve não teme", diz Viana

A cada questionamento do DEM e do PSDB sobre gastos, aliados vão divulgar dados do segundo mandato de FH

BRASÍLIA. O governo iniciou ontem uma operação para tentar intimidar a oposição e tentar limitar a investigação da CPI do Cartão Corporativo no Senado. Emissários do Palácio do Planalto mandaram recados a caciques do PSDB, em tom de ameaça velada, de que a disposição é fazer uma devassa nos gastos feitos durante o segundo mandato do governo Fernando Henrique Cardoso (1998-2002).

Segundo um articulador político do governo, "a ordem é trocar chumbo grosso" com tucanos e democratas: os dados que a oposição pedir para investigar também serão fornecidos em relação ao segundo mandato de Fernando Henrique.

O que o governo pretende é um acordo de procedimentos com a oposição para impedir excessos e, principalmente, blindar a Presidência. Não por acaso, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), incluiu no requerimento de criação da CPI a ampliação da investigação até 1998. Como os cartões corporativos só foram instituídos a partir de 2001, o requerimento englobou os gastos de suprimentos de fundos, que são as despesas feitas por intermédio da conta "tipo B".

Ontem, no Planalto, circulavam dados comparativos dos gastos feitos nos últimos dois anos do governo tucano. Por essa tabela, em 2001 e 2002, os gastos com o suprimento de fundos foram de R$213,6 milhões e R$233,2 milhões, respectivamente. A tabela mostra ainda que, apesar da implantação gradual do cartão para substituição das contas "tipo B", a partir de 2003 esse tipo de gasto foi reduzido de forma significativa para uma média anual de R$144,2 milhões.

- Qual o problema em investigar os últimos dez anos? Quem não deve não teme. O procedimento anterior de gasto, feito com as contas "tipo B", deixou o governo Fernando Henrique mais vulnerável. Tanto que os tucanos decidiram mudar o procedimento para cartões corporativos. Não vamos deixar o governo Lula intimidado, como se a oposição fosse a detentora da força moral do país - disse o vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC).

"Governo vai tentar confundir a opinião pública"

O PSDB avalia que o governo tenta repetir o que ocorreu no escândalo do mensalão, em 2005: integrantes do PT tentaram um acordo com os tucanos para abafar a CPI dos Correios. O PSDB estava na mira por causa do valerioduto mineiro.

- Não tenho dúvida de que o governo vai tentar confundir a opinião pública com a divulgação de dados do governo Fernando Henrique. Isso ocorreu no mensalão, quando o PT tentou desviar a investigação com o episódio de Minas. O que é estranha é a reação desproporcional do governo. Parece que estão querendo esconder alguma coisa - reagiu o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE).