Título: Jucá retira pedido de CPI, acirrando disputa
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 08/02/2008, O País, p. 9

GASTOS SEM CONTROLE: "Que o governo não venha politizar um assunto que é uma exigência da sociedade"

Líder do governo teria cometido erro técnico e terá de reapresentar requerimento; oposição briga por CPI mista

BRASÍLIA. A pressa do governo em assumir a dianteira das articulações em favor de uma CPI no Senado para investigar irregularidades no uso dos cartões corporativos acabou dando errado. Um dia depois de o líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), ter protocolado requerimento com 31 assinaturas formalizando o pedido de criação da CPI, ele terá que fazer tudo de novo, por causa de um erro técnico.

Diante das ameaças de aliados do Planalto de fazer uma devassa nos gastos na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso - e até nas despesas pagas com cartões pelo governo paulista -, o PSDB e o DEM prometem mobilizar oposicionistas e dissidentes da base para garantir a instalação de uma CPI mista.

A expectativa do governo era que o requerimento de Jucá fosse lido no plenário do Senado na terça-feira. Mas Jucá foi obrigado, ontem, a mudar o texto para definir o número de integrantes da CPI, seu prazo e orçamento. A oposição, surpreendida com a estratégia governista, aproveitou a falha técnica para questionar a legalidade do documento. O presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), recomendou que Jucá elabore novo requerimento e recomece a coleta de assinaturas.

O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), autor da proposta de CPI mista, antecipou que teria garantidas pelo menos 126 assinaturas na Câmara, 45 a menos do que as 171 necessárias. No Senado, os líderes do PSDB, Arthur Virgílio (AM), e do DEM, José Agripino (RN), informaram que não teriam dificuldades para coletar as 27 assinaturas necessárias em apoio à CPI mista.

- O governo anterior abafou todas as CPIs e agora a oposição quer uma nova CPI. Se querem tanto investigar, é bom que analisem os R$108 milhões gastos no ano passado pelo governo de São Paulo com cartões corporativos - provocou o líder do PMDB, Valdir Raupp (RO).

Para Agripino, o governo tenta politizar a investigação:

- Qual é a acusação contra o governo Fernando Henrique? Acusações existem contra o atual governo, que reconheceu que as denúncias são graves, tanto que demitiu a ministra Matilde Ribeiro. Que o governo não venha politizar um assunto que é uma exigência da sociedade.

Se Jucá protocolar o novo requerimento no início da semana, Garibaldi admite fazer a leitura em plenário na terça-feira. Cada partido teria prazo de cinco sessões para indicar seus representantes. A princípio, a base terá direito a seis nomes e a oposição, cinco. Pela praxe, cabe ao partido do parlamentar que protocolou o requerimento da CPI, o PMDB, indicar o relator ou o presidente da CPI. Como o presidente não vota, o PMDB deve preferir a relatoria.