Título: Caminho livre para McCain
Autor:
Fonte: O Globo, 08/02/2008, O Mundo, p. 25

Mitt Romney desiste da campanha, deixando senador como virtual candidato republicano.

WASHINGTON

Oprimeiro candidato à Presidência dos Estados Unidos foi conhecido ontem. A desistência do ex-governador de Massachusetts Mitt Romney colocou o senador John McCain como virtual representante do Partido Republicano na eleição, uma vez que os pré-candidatos restantes não têm chances reais de alcançá-lo.

Mas o palco escolhido para a definição da corrida republicana também mostrou o quanto McCain terá que lutar para unificar a legenda para a disputa com o partido Democrata, ainda indefinido entre Barack Obama e Hillary Clinton. Romney desistiu das primárias durante um discurso diante da 35ª Conferência da Ação Política Conservadora (CAPC), ontem, em Washington, encontro anual que reúne seus principais partidários - e maiores adversários de McCain dentro do partido Republicano.

Ele não endossou a candidatura de McCain, e usou a guerra no Iraque como desculpa, sem mencionar as seguidas derrotas eleitorais e os custos da campanha. O candidato investiu US$35 milhões do próprio bolso.

- Preciso me afastar (da corrida), por nosso partido e por nosso país - disse Romney. - Se continuar lutando por minha campanha até a convenção, eu impediria o lançamento de uma campanha nacional e tornaria mais provável uma vitória de Hillary ou de Obama.

Vaias por projeto de nova lei de imigração

Romney ressaltou pontos de seu programa. Disse que a "cultura americana" está em risco, que é preciso defender o país de ataques contra "a fé e a religião", e que a Constituição deve ser alterada para salvaguardar a "santidade do casamento". Ele defendeu que o governo gaste pouco e corte impostos. Mas, segundo ele, o que o fez deixar a disputa é o "extremismo jihadista". Criticou o fato de Hillary e Obama estarem prometendo retirar as tropas do Iraque.

- Isso seria uma derrota para os EUA. Neste tempo de guerra, simplesmente não posso permitir que minha campanha auxilie na rendição ao terrorismo.

Romney não abandonou a campanha, preferindo apenas suspendê-la. Esse artifício permite o pré-candidato se manter na disputa e, caso ocorra alguma coisa com os candidatos que continuam na corrida, ele possa substituí-los.

Oficialmente, McCain ainda não é o candidato republicano, apesar de ninguém dentro do partido colocar isso em dúvida. O senador tem 714 delegados, quando são necessário 1.191. Mas a distância de McCain sobre o principal candidato restante, Mike Huckabee, é considerada insuperável devido a vários fatores: Huckabee tem só 184 delegados; é considerado pouco consistente para uma campanha presidencial; e, principalmente, não conta com dinheiro para vencer a campanha das primárias.

O primeiro discurso de McCain como virtual candidato à Presidência acabou sendo bem diferente do que sua campanha planejara. Horas depois de ser surpreendido pela desistência de Romney, ele esteve no mesmo palco da CAPC, mas a reação do público foi bastante distinta. Ele chegou a ser vaiado em alguns momentos.

- Sei que tenho uma responsabilidade caso seja, e espero ser, o candidato republicano para presidente: unificar o partido e me preparar para a grande disputa de novembro - disse ele.

Surpreendido pela desistência de Romney, McCain fez o discurso que se esperava dele: buscou provar que era conservador.

- Meu histórico parlamentar, tomado como um todo, é o histórico de um conservador tradicional - afirmou.

Pouco depois, ouviu vaias ao mencionar a reforma da lei de imigração.

- Certamente, defendi posições que não geraram concordância geral dos conservadores. Não vou fingir isso, nem vocês me deixariam esquecer isso.

Ao emergir como candidato virtual, McCain também atraiu críticas do lado democrata.

- Respeito meu amigo e colega senador McCain. Mas acho que ele oferece apenas mais do mesmo. Mais da mesma política econômica, mais da mesma política militar no Iraque - criticou Hillary Clinton, ao falar ontem com estudantes secundaristas em Arlington, Virgínia.

Hillary lembrou que recentemente McCain disse que, por ele, as tropas americanas ficariam mais 100 anos no Iraque.