Título: A rede dos terremotos
Autor: Albuquerque, Carlos
Fonte: O Globo, 08/02/2008, Ciência, p. 28

Brasil vai ter um sistema para monitorar suas atividades sísmicas.

Deitado eternamente em berço esplêndido, o Brasil não é conhecido pela grande incidência de terremotos. Mesmo assim, eles acontecem. Nos últimos dez anos, foram cerca de 10 mil sismos, a maior parte deles imperceptível, de baixa intensidade, inferior a 3 graus na Escala Richter. Uma exceção foi o tremor de 4,9 graus, que atingiu a cidade mineira de Caraíbas, em dezembro do ano passado, matando uma pessoa e ferindo outras seis.

Para ter uma noção melhor dessas atividades sísmicas, o Observatório Nacional, em parceria com a Petrobrás, está implementando a primeira rede de sismógrafos para monitorar os tremores de terra em todo o Brasil.

Projeto vai espalhar 40 estações pelo país

Orçado em R$6,1 milhões, o projeto vai espalhar inicialmente 11 estações pelas regiões Sul e Sudeste, estendendo-se depois ao resto do país. No total, serão mais de 40 estações, que deverão estar funcionando num prazo de três ou quatro anos, como explica o diretor do Observatório Nacional, Sérgio Fontes.

- A importância de se ter uma rede dessas é enorme. Mesmo não sendo um país de grande atividade sísmica, o Brasil tem uma freqüência intensa, mas baixa, de tremores. Além da segurança, essa rede vai nos dar um maior conhecimento geológico da crosta sob o território brasileiro. Isso vai nos ajudar a entender melhor a formação de recursos naturais, como bacias sedimentares que acumulam petróleo.

Embora brandos, os abalos que acontecem regularmente no país representam um risco em potencial para a integridade das estruturas das plataformas de petróleo. Como a Petrobrás tem, por obrigação legal, que investir em pesquisas científicas 1% das receitas obtidas com a exploração de poços, surgiu a parceria com o Observatório.

- Do ponto de vista de engenharia e segurança, a rede vai ser muito importante para as instalações de petróleo em alto mar - garante Fontes. - Afinal, um sismo, mesmo sem grande intensidade, pode abalar as estruturas das plataformas.

Em 1955, um tremor de 6,6 graus atingiu o Mato Grosso

Além da segurança das plataformas, há o lado financeiro: como a atividade sísmica no Brasil ainda é muito pouco conhecida, as apólices pagas pela Petrobras por suas plataformas têm por base o valor mais alto previsto nas tabelas das seguradoras.

Das seis mil estações sismográficas existentes no planeta, apenas seis estão no Brasil. Segundo o diretor do Observatório Nacional, a falta de equipamentos para conhecer mais o assunto por aqui ajudou a disseminar a crença de que o país estaria livre de terremotos.

- O Brasil está atrasado nessa área porque não é um pais onde os terrenos ofereçam os perigos que existem em outras partes do mundo. As poucas estações que temos funcionam apenas durante um tempo por um motivo específico. Agora, eles serão permanentes - conta Fontes, lembrando que o país já registrou dois terremotos, em 1955, que atingiram o Mato Grosso e o Espírito Santo, com intensidade de 6,6 graus na Escala Richter, mas não causaram estragos ou vítimas porque seus epicentros foram em áreas desabitadas.

As regiões Sul e Sudeste foram escolhidas para serem as primeiras a terem a rede instalada porque, como lembra Sérgio Fontes, concentram a maior parte da população e também 90% da extração de petróleo do país. As regiões Norte e Nordeste, onde acontecem a maior parte dos tremores, serão as próximas do projeto.

- Essas duas regiões fazem parte da etapa seguinte do projeto de implementação da rede, que deve começar ainda este ano.