Título: Saques subiram de 61% para 75%
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Fonte: O Globo, 09/02/2008, O País, p. 5

Montante retirado na boca do caixa chegou a R$58,7 milhões em 2007.

BRASÍLIA. O governo Lula registrou nos últimos anos um aumento dos saques em espécie com cartões corporativos. O percentual saltou de 61% do total gasto em 2003 para 75% em 2007.

O aumento dos saques, que por determinação do governo só deveriam ocorrer em casos excepcionais, fez com que o governo fixasse na última semana novas regras, na tentativa de aumentar o controle. Os saques são de difícil fiscalização. O governo adotou os cartão corporativos, em substituição às contas correntes do tipo B, justamente para evitar o pagamento de despesas com dinheiro vivo. Mas o uso do cartão acabou sendo desvirtuado - como reconheceram semana passada os ministros do Planejamento, Paulo Bernardo, e da Controladoria Geral da União, Jorge Hage.

Desde o início do governo Lula, a média de saques ficava em torno de 60% do valor total, até chegar aos 75% em 2007. No ano passado, o governo gastou R$78 milhões com cartões corporativos, sendo que R$58,7 milhões (75%) foram de saques de dinheiro e R$19,2 milhões de despesas faturadas.

Em 2003, o governo gastou R$8,7 milhões com cartões, sendo R$5,3 milhões (61%) em saques e R$3,4 milhões em fatura. Em 2004, o percentual subiu para 63%, correspondendo a R$8,1 milhões do total de R$13 milhões. Em 2005, o percentual foi de 62% (R$13 milhões, do total de R$20,8 milhões). Em 2006, o percentual de saques voltou a ser de 63%, equivalente a R$21,8 milhões de R$34,6 milhões gastos. Em 2007, chegou a 75%.

O índice é menor do que os 77% registrados em 2002, último ano do governo Fernando Henrique, mas para um gasto muito menor. Naquele ano, foram gastos com saques 2,8 milhões do total de R$3,6 milhões comprados no cartão.

Os ministros argumentam que os gastos com saques subiram em 2007 devido ao Censo do IBGE em todo o país e aos serviços de segurança dos Jogos Pan-Americanos, prestados pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Em 2007, só a Abin gastou R$11,58 milhões, 100% na forma de saques. O mesmo ocorreu com o IBGE, que sacou R$32,48 milhões.

Ao anunciar as novas regras para os cartões, com o limite de saques em 30% do valor do suprimento de fundos, o ministro Paulo Bernardo reconheceu que houve desvirtuamento no uso do cartão.

- O pessoal tende a usar o cartão como se fosse a conta dele - disse Bernardo.

Já a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse esta semana que o governo está tendo que mudar uma "rotina de comportamento" de anos do funcionalismo público, acostumado a usar dinheiro vivo por meio das contas tipo B. Segundo a CGU, cerca de 13 mil cartões já foram disponibilizados, sendo que apenas 7.145 foram realmente usados em 2007. Mas, segundo o Tesouro Nacional, são 11.500 cartões em poder do Executivo, nem todos utilizados.