Título: Descoberto plano para matar juiz e procurador
Autor: Rios, Odilon
Fonte: O Globo, 09/02/2008, O País, p. 12

Procurador-geral vai a Alagoas para denunciar trama contra dupla, considerada "linha dura" no combate ao crime

Odilon Rios

MACEIÓ. O procurador-geral da República, Antônio Fernando Souza, denunciou ontem, em Alagoas, que o juiz federal Rubens Canuto Neto e o procurador da República Rodrigo Tenório estavam marcados para morrer. Os dois atuam na cidade de Arapiraca, a 120 quilômetros de Maceió. O plano seria executado por um pistoleiro, que receberia R$50 mil.

- Era uma trama por causa do conjunto de atividades que os dois vinham executando no combate ao crime - disse Antonio Fernando.

Canuto e Tenório estão com escolta da Polícia Federal

A entrevista para denunciar o plano foi convocada pelo procurador, que foi de Brasília para a capital alagoana, acompanhado de integrantes do Judiciário federal e no estado: o vice-presidente da Associação dos Juízes Federais da 5ª Região, José Luiz Matias; o presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, Antonio Carlos Bigonha; além de juízes que combatem o crime organizado alagoano; integrantes do Ministério Público Federal; e o superintendente da Polícia Federal no estado, José Pinto de Luna.

Rubens Canuto e Rodrigo Tenório não compareceram à entrevista por motivo de segurança. O plano foi descoberto por Tenório e informado dia 29 de janeiro ao Ministério Público Federal. Desde a semana passada, ambos usam carros blindados e são escoltados por policiais federais.

- Para não atrapalhar as investigações, não podemos divulgar os detalhes, mas estamos no caso. Somos o braço armado do Judiciário Federal - afirmou Luna.

Os dois são considerados homens da "linha dura" no combate ao crime organizado: foram responsáveis pela prisão de uma quadrilha que roubava cargas e pela condenação dos integrantes a 54 anos; deram apoio a três operações da Polícia Federal, incluindo a que investigava desvio de verba para o combate a seca, liderado por prefeitos e ex-prefeitos, com dinheiro lavado na compra de apartamentos e carros de luxo. Também são responsáveis pelas prisões de chefes de Executivo acusados de desvio de verba da merenda escolar, através do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

- Isso é uma armação contra as instituições do povo brasileiro. Não recuaremos. Isso é de interesse federal, da República - afirmou o procurador-geral.

Antonio Fernando descartou uma intervenção federal em Alagoas, apesar da onda de crimes no estado. Em duas semanas, foram mortas 13 pessoas em três chacinas.

Estamos aqui por causa especificamente das ameaças - disse o procurador.

De acordo com Antonio Fernando, Alagoas não é o único estado do Brasil onde acontecem ameaças ou planos de morte contra integrantes da Justiça Federal.

- Fazemos este mesmo movimento de solidariedade. Não serão ameaças ou tramas feitas na calada da noite que vão atrapalhar nossos trabalhos.