Título: Manufaturas têm déficit comercial de US$7,8 bi
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 09/02/2008, Economia, p. 23

Crescimento e real valorizado estimularam importações em 2007. No ano anterior, houve saldo.

BRASÍLIA. Impulsionadas pelo crescimento econômico e pelo câmbio valorizado, as importações foram responsáveis, em 2007, por uma virada radical no comércio exterior de bens industrializados. Segundo levantamento preliminar do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o setor passou de um superávit de US$5,9 bilhões em 2006 para um déficit de US$7,8 bilhões no ano passado. O saldo negativo em manufaturas, concluiu o Iedi, praticamente voltou ao nível de 2000, antes das fortes desvalorizações cambiais de 2001 e 2002. Na época, o déficit ficou em US$8,723 bilhões.

A importação das manufaturas, em tese, prejudica a indústria nacional, que deixa de desenvolver tecnologia e expandir o parque produtivo - com conseqüências negativas para a atividade econômica e o emprego. Além disso, são menos instáveis que as commodities, que têm cotação internacional.

O Brasil pode evitar a vulnerabilidade externa do passado, "se o saldo em produtos primários continuar a trajetória espetacular dos últimos anos e compensar o déficit explosivo em manufaturas", informa o Iedi em uma nota técnica.

No estudo, o Iedi recomenda políticas públicas nas áreas cambial, tecnológica e de infra-estrutura. A entidade estima uma valorização do real frente ao dólar em torno de 20%, o que torna vantajosa a importação de insumos e bens de capital. Outra sugestão dada pelo instituto é que se aprofundem as negociações de acordos de livre comércio do Brasil - também para o governo uma das saídas para ampliar as exportações.

Segundo o economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor do Iedi e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, houve "aumentos absurdos" nos déficits de setores de alta intensidade de mão-de-obra qualificada e tecnologia, como farmacêutico, de aeronaves, componentes eletrônicos, material ótico e instrumentos de precisão.

Outros segmentos, como calçados e automóveis, tiveram seus superávits reduzidos. No caso de sapatos e têxteis, também pesou a forte concorrência de produtos chineses.

Almeida admitiu que, no caso de forte desaceleração da economia americana, as vendas de manufaturados brasileiros para o exterior podem ser afetadas. Pelo menos um terço das exportações brasileiras de manufaturados vai para os EUA.

O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, confirmou que a alta das importações se manteve em janeiro e deve continuar nos próximos meses. O dado positivo é que as exportações também estão crescendo.

Itens comprados no exterior podem ser depois exportados

Segundo Barral, as importações adicionam valor a produtos que depois serão exportados ou ajudam a elevar a produção interna. Ele citou como exemplos automóveis, circuitos integrados de telefonia, químicos e farmacêuticos. Segundo o secretário, com o fortalecimento da produção de medicamentos nacionais, as importações subiram muito. O mesmo ocorreu com as compras de componentes eletroeletrônicos.