Título: Ministro invoca segurança para manter sigilo
Autor: Batista, Henrique Gomes; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 10/02/2008, O País, p. 9

Chefe de gabinete diz temer atentado "ou coisa parecida".

BRASÍLIA.O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, disse ontem que concorda que todas as explicações devem ser dadas na CPI do Cartão, mas continuou defendendo o sigilo de gastos do presidente da República.

- Todos nós desejamos que isso seja mais esclarecido (aumento dos gastos), e a CPI vai esclarecer isso - afirmou o ministro.

Múcio disse ser favorável à manutenção dos saques em espécie e do sigilo dos dados que envolvem a Presidência.

- A culpa não é do cartão. A culpa é de quem fez mau uso dele - afirmou.

Gilberto Carvalho, chefe do gabinete pessoal da Presidência, afirmou que a reportagem da revista "IstoÉ" está errada. Segundo ele, Swedenberger Barbosa, da assessoria da Presidência, não coordena nada sobre os gastos públicos:

- Ele não tem cartão, e nem eu tenho cartão corporativo.

Carvalho voltou a defender ainda que o sigilo dos cartões da Presidência seja mantido.

- Ou alguém quer saber onde os palácios compram carne, para fazer um atentado ou coisa parecida? -- disse.

Funcionários teriam sacado R$5,8 milhões desde 2003

Reportagem da revista "Veja" aponta que cada um dos servidores da Presidência gastou, em média R$56 mil por ano, contra R$6,7 mil na média do governo e de R$4 mil nos cartões corporativos da iniciativa privada, normalmente em poder dos executivos das empresas.

A revista "IstoÉ", por sua vez, indica que apenas em janeiro deste ano os cartões oficiais federais já foram utilizados em compras e saques que totalizam R$6,2 milhões - desse total, R$1,8 milhão para o Palácio do Planalto, somando os gabinetes e a Abin. Segundo a revista, foram sacados pelo Planalto R$5,8 milhões em dinheiro, desde 2003. A publicação também traz detalhes sobre os gastos com cartões dos funcionários relacionados à primeira-dama, como os saques de R$614,7 mil da funcionária Marília Emília Mateus.

O líder do PSDB na Câmara, deputado Antonio Carlos Pannunzio (SP), também cobrou que os dez portadores de cartão da Presidência sejam convocados a depor, quando a CPI for instalada na Casa ou Senado.

- Uma das razões porque os governistas se bateram tanto contra a CPI mista agora aparece: eles sabiam que tinham coisa a esconder. Uma coisa deplorável! A gente esperava que o PT viesse para adicionar novas práticas e costumes, mas preferiu chafurdar no lodo dos péssimos costumes. O Estado não está aqui para financiar despesas pessoais - disse Pannunzio.

- Estão transformando o uso desse cartão em brinquedo, perderam completamente o senso de decência e controle nos gastos - disse o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA).