Título: Números sobre gastos do Planalto esquentam CPI
Autor: Batista, Henrique Gomes; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 10/02/2008, O País, p. 9

Em 2007, a Presidência da República gastou R$5,2 milhões com cartões, sendo R$551,8 mil em saques

BRASÍLIA. A divulgação de novos gastos com cartões corporativos da Presidência - sobretudo aqueles relacionados às despesas diretas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da primeira-dama, dona Marisa - esquentaram ainda mais o clima no Congresso, em vias de abrir uma CPI para investigar essas operações. Em 2007, a Presidência da República gastou R$5,2 milhões com esses cartões, 6,7% do total do governo federal, de R$78 milhões. Do valor da Presidência, R$551,8 mil foram saques em dinheiro vivo.

Isso sem contar os R$11,5 milhões sacados por servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que faz parte da estrutura da Presidência, já que é subordinada ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Diante dos altos saques na Presidência, os autores do pedido da CPI disseram ontem que não vão abrir mão de convocar para depor os dez maiores sacadores da Presidência (os ecônomos, no linguajar oficial), listados nas reportagens das revistas "Veja" e "IstoÉ". Esses dez funcionários teriam gasto R$11,6 milhões com cartões corporativos desde o início do governo Lula, em 2003, segundo a "Veja"..

Líder tucano vai pedir ao STF que torne os gastos públicos

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio Neto (AM), anunciou que esta semana vai protocolar no Supremo Tribunal Federal (STF) pedido para que sejam tornados públicos todos os gastos e saques com cartão corporativo. Ele disse ter esperança que o Supremo acabe com a "farra" dos cartões antes mesmo de uma possível CPI para investigar os abusos, decretando o fim do sigilo dos saques da Presidência. Segundo ele, os novos números reforçam a necessidade de uma CPI mista. A funcionária Marília Emília Mateus, que trabalha para a primeira-dama, sacou entre 2003 e 2005, R$614,7 mil em dinheiro vivo.

- Não abriremos mão de convocar e investigar os principais sacadores, sejam da Presidência ou de que cargo forem. Aliás, esse é o grande temor deles, ao ponto de chegarem ao ridículo de dizer que é questão de segurança nacional, como se o presidente e a primeira-dama estivessem enriquecendo urânio. Na verdade, não querem que o povo descubra que o cartão virou uma fonte de salário indireto para quem já tem tudo regiamente pago pelos cofres públicos - disse Virgílio.

O presidente do Democratas (DEM), deputado Rodrigo Maia (RJ), disse que "agora sim o caso dos cartões se transformou num escândalo, um descalabro com o dinheiro público, que deixa o mensalão no chinelo":

- Como eles vão explicar esses gastos milionários, descabidos, tanto dinheiro para o presidente e a primeira-dama, que já têm toda uma estrutura de palácios e viagens resolvida por licitações? O cartão corporativo virou o Boca Família, institucionalizou o PT como o Partido da Boquinha.