Título: Lula entrega cargos ao PMDB hoje
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 11/02/2008, O País, p. 4

Lobão diz que "fortalecimento da base" ajudará o governo nas batalhas da CPI.

BRASÍLIA. Após uma semana de descanso na praia, no Guarujá, em São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retoma hoje a agenda de trabalho no Palácio do Planalto. Com sucessivas denúncias de abuso no uso do cartão corporativo, a principal tarefa de Lula hoje é saciar o apetite do PMDB na definição de nomes para cargos estratégicos do setor elétrico. Desta forma ele tentará garantir uma vida tranqüila durante as investigações da CPI do Cartão Corporativo, que deve ser instalada na Câmara e Senado. A inevitabilidade da CPI precipitou o acerto dos cargos, e Lula resolveu apressar nomeações que vinham sendo barradas pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

No fim de semana, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, reuniu-se com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, para definir os nomes do setor elétrico, que tanta cobiça e cobrança causa no PMDB. Nomes decididos, caberá a Lula, em reunião hoje com os dois subalternos, bater o martelo e dizer amém aos anseios peemedebistas. Lula deverá escolher o novo presidente e diretores da Eletrobrás, além do novo comandante da Diretoria Internacional da Petrobras. Estes e outros cargos são disputados entre o PT e o PMDB.

- Para ser sincero, já passou da hora (de escolher os nomes) - disse José Múcio.

O ministro passou quase duas horas, sábado, reunido no Palácio do Planalto com Edison Lobão, que entregou-lhe uma lista de nomes que o PMDB quer ver nesses cargos. Lobão representa os interesses do senador José Sarney (PMDB-MA), seu padrinho político. Do outro lado está a ministra Dilma Rousseff, que quer manter nos cargos os seus indicados.

Pedidos também de Jader Barbalho

Deverão ser confirmados por Lula os nomes de José Antônio Muniz, ex-presidente da Eletronorte e ligado a Sarney, para a presidência da Eletrobrás; e de Miguel Colassuono, Benjamin Maranhão, Walter Cardeal e Astrogildo Quental para as diretorias da estatal. O governo deve confirmar ainda Lívio de Assis para a presidência da Eletronorte, a pedido de Jader Barbalho (PMDB-PA), e Jorge Luiz Zelada para a Diretoria Internacional da Petrobras, no lugar de Nestor Ceveró, indicado pelo senador Delcídio Amaral (PT-MS), que perderá o posto para o PMDB.

O governo espera amenizar o apetite do partido, como admitiu o próprio Lobão. Um dos maiores interessados em ver os pleitos do padrinho Sarney serem atendidos, ao sair do Palácio o ministro Lobão mandou um recado: disse claramente que as indicações fortalecem o governo no Congresso para a batalha da CPI.

- Sempre ajudará. Essas articulações todas contribuem para o fortalecimento e consolidação da base do governo no Senado e também na Câmara. No ministério também estão sendo acomodadas indicações da bancada da Câmara. Do ponto de vista político, o governo se fortalece - disse Lobão.

O presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), comemorou a proximidade do desfecho desse embate do PMDB no Planalto.

- Se tiver sido efetivamente resolvido o problema das indicações, não há dúvida de que ajudará nas questões da bancada do PMDB.

Ontem, José Múcio frisou que o governo está cumprindo sua parte no acordo.

- O governo mostra que está cumprindo o que havia prometido - afirmou, ao tratar das indicações do PMDB.

Ciente de que ao agradar o PMDB poderá desagradar outros aliados, sobretudo o PT, que vinha brigando para manter seus indicados no sistema elétrico e na Petrobras, José Múcio pretende pôr panos quentes, para não esfriar a relação com os demais partidos. Amanhã ele irá se reunir com os líderes da base aliada. Tratará da CPI do Cartão Corporativo e, claro, de cargos.

Para José Múcio, outros partidos nada perderão

José Múcio disse acreditar que a definição dos espaços do PMDB não prejudicará a seara dos outros partidos. O líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES), afirmou que sua legenda não tem pendências nacionais para resolver com o governo e elogiou a definição dos nomes do PMDB em cargos que estavam pleiteando. No entanto, ele ponderou que é importante definir de uma vez os nomes, e não a cada crise, para não parecer que o governo está cedendo a chantagens.

- O governo não pode se submeter à chantagem, mas é importante acertar tudo com o PMDB - declarou. - Agora, o que não dá é para ficar discutindo cargos a cada crise.