Título: Oi e BrT: uma união que já acontece na prática
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 11/02/2008, Economia, p. 17

Empresas têm operações conjuntas, como parceria com TV.

A união da Brasil Telecom (BrT) e da Oi (ex-Telemar), que vai resultar em uma das maiores empresa de telecomunicações da América Latina, já é realidade para milhares de consumidores. É que, na prática, as duas empresas mantêm uma série de operações conjuntas. As sinergias vão de ligações feitas em roaming, download de imagens e sons e, a mais importante, a parceria com a operadora de televisão por assinatura Sky/DirecTV. De acordo com fontes envolvidas na transação, o negócio, o maior do setor no país, deve ser fechado no fim desta semana.

É essa sinergia que leva o presidente de uma empresa de telefonia móvel no Brasil a afirmar que a "fusão" já é uma realidade. Segundo analistas, as parcerias são importantes, pois permitem às duas operadoras ganhar mercado em relação às principais concorrentes. Oi e BrT já fizeram uma série de promoções conjuntas, como o "Pula-Pula", no qual as operadoras habilitaram suas redes para trocas de mensagens (SMS) entre os clientes.

Mas o acordo mais importante das duas empresas foi firmado no ano passado, com a SKY/DirecTV. Essa parceria permite criar uma série de ações de vendas e descontos com a empresa de TV por assinatura nos serviços fornecidos em cada região. O objetivo é enfrentar o grupo do mexicano Carlos Slim - o homem mais rico do mundo, dono da Embratel, da Claro e de fatia da NET - e os espanhóis da Telefônica, que controlam Vivo, Telesp e parte da TVA.

A relação entre as operadoras é antiga. Em 2005, a Oi criou a Oi Internet, então comandada por Sérgio Creimer, executivo que havia presidido o provedor BrTurbo, da BrT. Nas regiões onde não tem operação local, a Oi Internet usa as redes da BrT.

Em "roaming", operadoras também têm acordo

O serviço de roaming, por exemplo, é uma sinergia bem sucedida. Na área de atuação da BrT, os clientes da Oi não pagam adicional de chamada (AD) e têm uma tarifa local especial. O minuto da ligação local em roaming nas áreas da Oi ou da BrT vão de R$0,26 a R$0,94. O pacote inclui também o envio e o recebimento de mensagens, além do download de músicas. Fora da área de atuação da Oi e da rede da BrT, a cada ligação são cobrados um adicional por chamada (AD) e uma tarifa por minuto (de acordo com o tipo de ligação feita).

- A maioria das parcerias funciona como estratégia de marketing. A principal delas é, sem dúvida, poder oferecer TV por assinatura. Isso permite concorrência maior. O roaming sem taxa de deslocamento também acaba atraindo o usuário - ressalta Virgílio Freire, consultor e ex-presidente da Vésper e da Lucent.

Para o analista Eduardo Roche, da Modal, os acordos não são relevantes para o faturamento das operadoras. Já na opinião de Beatriz Battelli, da Brascan Corretora, as duas operadoras juntas conseguem maior força para negociar e, assim, podem oferecer melhor preço:

- Operações feitas em conjunto são positivas para as duas operadoras. Elas conseguem ganhar mercado e crescer em cima de outros concorrentes.

De acordo com fontes envolvidas nas negociações, a supertele, com faturamento projetado de US$15 bilhões para este ano, segundo o Santander, terá como prioridade incentivar empresas brasileiras produtoras de software e sistemas de tecnologia, conforme pedido do governo.

- Não há uma empresa brasileira forte nesse setor, que é dominado por multinacionais. Ficamos dependentes dos estrangeiros. A supertele vai ficar à frente das inovações tecnológicas - disse uma fonte.

Esta semana, devem ser concluídos os contratos entre as empresas para formalização da união. Até sexta-feira, os principais executivos ainda escolhiam o melhor modelo tributário para a operação. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) espera a conclusão do negócio para liberar um financiamento em torno de R$2 bilhões.

Segundo estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV), a criação da supertele criará concentração apenas no segmento de internet. No caso da conexão discada, a nova empresa terá 74% do mercado na Região I (Sudeste, exceto São Paulo, Nordeste e Norte) e de 56% na Região II (Regiões Sul e Centro-oeste). No caso da internet banda larga, a concentração será de 49% e 57%, respectivamente. Os segmentos de chamadas locais, de longa distância nacional e internacional não sofrerão grandes mudanças.