Título: Os insatisfeitos que vão definir a corrida
Autor: Nagourney, Adam; Hulse, Carl
Fonte: O Globo, 11/02/2008, O Mundo, p. 21

Essa tem sido uma eleição totalmente confusa ¿ e a corrida está só começando.

A ressurreição de John McCain, a insurgência de Barack Obama, a queda (e ascensão) de Hillary Rodham Clinton, a ascensão (e queda e ascensão) de Mike Huckabee ¿ comentaristas, pesquisadores, e outros supostos especialistas não anteviram, em sua maioria, nada disso. Na verdade, há uma razão simples pela qual as classes conversadoras têm tão consistentemente se equivocado nesta eleição. Elas não estão percebendo a dinâmica mais importante da disputa: o surgimento de um novo grupo de eleitores que está clamando por soluções ousadas e bipartidárias, e sente-se enojado com a politicagem de Washington. Mas os candidatos também estão deixando algo de lado ¿ uma mensagem simples e audaciosa que estabeleça o rumo da corrida presidencial.

Os eleitores de hoje não estão apenas cansados do status quo; eles estão furiosos. Numa pesquisa do Gallup mês passado, apenas 24% dos americanos se disseram satisfeitos com o atual estado do país ¿ um dos índices mais baixos de todos os tempos. E eles não estão com raiva só de George W. Bush. A aprovação ao congresso, liderado pelos democratas, é ainda mais baixa do que a do presidente.

Quem são esses eleitores raivosos? Eu os chamo de ¿moderados inquietos e ansiosos¿. A maioria vem daquele terço dos eleitores que se classifica como independente, mas alguns democratas e republicanos se juntaram ao grupo. Esses eleitores tendem a ser práticos, não-ideológicos, e totalmente focados em resultados.

Ambos partidos parecem ignorar que esse grande grupo de eleitores frustrados apareceu. Estrategistas dos dois lados tendem a tratar os independentes como democratas ou republicanos moderados. Mas não há nada de moderado no clima que está transformando a polícia americana. A raiva é tão intensa que mesmo democratas ou republicanos ferrenhos começam a se comportar como eleitores independentes.

Até agora, o beneficiário mais evidente dessa insatisfação tem, é claro, sido Barack Obama. Mas embora ele mereça crédito por perceber o desejo dos eleitores pelo apartidarismo, Obama até agora não conseguiu responder totalmente às preocupações dos moderados ansiosos, em particular no que diz respeito aos medos de uma recessão.

Os eleitores frustrados buscam substância, não estilo. Isso torna essa eleição incrivelmente volátil. Os eleitores ainda buscam um candidato capaz de tratar de todas suas preocupações. Com uma única simples promessa ¿ montar um governo de coalizão e trabalhar de modo bipartidário ¿ McCain, Clinton ou Obama poderiam revolucionar a política americana e definir a corrida.

Parece loucura? Não tenha tanta certeza. Há pelo menos um antecedente recente para isso. Lembre-se que John Kerry tentou recrutar McCain como seu parceiro de chapa em 2004. Se McCain tivesse aceitado, Kerry quase com certeza seria presidente hoje. Oferecendo a vice-presidência ao seu antigo amigo Joe Lieberman, McCain daria um grande passo para assegurar a vitória em novembro ¿ a não ser que Clinton ou Obama consigam virar a mesa.

DOUGLAS E. SCHOEN foi conselheiro de Bill Clinton nos anos 90 e escreveu este artigo para o ¿Washington Post¿