Título: Luta acirrada para conquistar superdelegados
Autor: Nagourney, Adam; Hulse, Carl
Fonte: O Globo, 11/02/2008, O Mundo, p. 21

Delegados não eleitos podem decidir disputa democrata. Obama quer que eles sigam escolha dos eleitores, mas Hillary discorda.

WASHINGTON. Com a grande possibilidade de a corrida para conseguir a indicação do Partido Democrata para a disputa da Presidência não ser decidida nas prévias que estão sendo realizadas, Hillary Clinton e Barack Obama estão dando bastante atenção a um grupo: políticos eleitos e líderes partidários que podem decidir o resultado na convenção democrata.

Há 796 deles, e se nem Obama nem Hillary saírem das prévias com os 2.025 delegados necessários para assegurar a indicação, serão eles os responsáveis pelo desempate. E os dois candidatos acreditam que isso se torna cada vez mais provável.

Conhecidos como superdelegados por serem livres para votar em quem quiserem na convenção, eles se tornaram objetos de uma ofensiva cada vez mais intensa por parte dos candidatos e seus partidários.

¿ Temos sido bombardeados com e-mails de todo mundo, e também de suas mães ¿ disse Donna Brazile, do Comitê Nacional Democrata. ¿ Do tipo: ¿tia Donna, você é superdelegada!¿ Minha sobrinha me ligou hoje para tentar ganhar meu voto.

Obama e Hillary estão dedicando algumas horas toda semana para telefonar para superdelegados, e suas equipes de campanha separaram times para escolher alvos.

A campanha de Hillary criou um sistema, que está sob a supervisão de um dos mais experientes conhecedores dos bastidores do partido, Harold Ickes. Os delegados selecionados são contatados por amigos cuidadosamente escolhidos, assim como figurões, como Madeleine Albright, ex-secretária de Estado. Para pessoas particularmente difíceis, os responsáveis pelo contato são o ex-presidente Bill Clinton e a filha, Chelsea.

Obama alistou para a tarefa Tom Daschle, ex-senador que foi líder da maioria democrata no Senado, assim como a governadora do Arizona Janet Napolitano e o senador John Kerry, o concorrente do partido nas eleições para presidente de 2004.

Diversos meios de comunicação americanos dão números diferentes para a tendência de voto dos superdelegados. Alguns apontam Hillary com boa vantagem, outros mostram uma disputa mais equilibrada. Os superdelegados incluem todos os governadores e congressistas democratas, assim como autoridades da estrutura partidária.

Eles ratificarão a decisão dos delegados e votarão no candidato que estiver na frente em junho, não importando que a diferença seja bem pequena? Eles se sentirão obrigados a seguir o voto dos eleitores de seus estados nas primárias? Ou devem apenas seguir sua consciência e votar em quem considerarem o mais bem preparado?

Para Hillary, superdelegados devem escolher o melhor

Os superdelegados foram criados, em 1982, para restaurar parte do poder de indicação ao partido. Na apertada corrida de 1984, Walter Mondale teve grande apoio dos superdelegados. Este ano, a competição é mais intensa, e o apoio dos superdelegados está dividido de forma mais equilibrada.

Obama já afirmou achar que os superdelegados devem seguir a vontade do eleitorado.

¿ Acredito que, se terminarmos com vitórias na maioria dos estados e tivermos o maior número de delegados eleitos pela maioria dos eleitores, seria problemático para os políticos do partido ignorar o julgamento do eleitorado ¿ disse Obama. ¿ Acho também que os superdelegados devem pensar sobre quem será o candidato mais forte para derrotar John McCain em novembro, e quem tem condições de conquistar votos de eleitores diferentes.

Hillary discordou da interpretação de Obama sobre como os superdelegados devem tomar sua decisão. Ela argumenta que devem escolher de maneira independente, baseando-se em quem consideram ser o melhor.

¿ Os superdelegados, por definição, devem exercer um julgamento independente ¿ disse Hillary. ¿ Mas, claro, se a campanha de Obama continuar a forçar esta posição, que é contrária à definição histórica do que é um superdelegado, tentarei receber o apoio dos senadores Edward Kennedy e John Kerry.

A possibilidade de a indicação democrata ser decidida nos bastidores do partido, em vez de isso ocorrer pelo voto dos eleitores, está provocando tensão em muitos superdelegados.

A campanha de Obama credita a vantagem de Hillary entre os superdelegados ao longo relacionamento dos Clinton com o Comitê Nacional Democrata e com congressistas e governadores. Para superar isso, dizem que terão que vencer convincentemente nas primárias.

¿ Minha opinião pessoal é que seria um erro caso os superdelegados ignorassem a visão dos delegados eleitos ¿ disse o senador, e superdelegado, John Kerry.