Título: CPI influi na indicação de cargos do setor elétrico
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 12/02/2008, O País, p. 8

GASTOS SEM CONTROLE: "Será um problema se esses cargos continuarem sob o comando de interinos", diz Raupp.

Lula adia escolhas, PMDB se fortalece, mas Dilma ainda resiste a entregar ao partido postos-chave nas estatais.

BRASÍLIA. Com dificuldade para chegar ao desejado consenso interno no governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou ontem problemas na agenda para adiar para amanhã a decisão do loteamento dos principais cargos do setor energético, como tem cobrado o PMDB. Estava prevista para ontem uma reunião do presidente com os ministros de Minas e Energia, Edison Lobão, e de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro. O argumento oficial foi de que Lula precisou antecipar a viagem para o Amapá, de onde sairá hoje para a fronteira com a Guiana Francesa, para encontro com o presidente francês, Nicolas Sarkozy.

- A conversa para definição dos cargos do setor energético ficou para quarta-feira porque a agenda ficou muito apertada - explicou Múcio.

Lobão e Múcio conversaram no fim de semana

Mas, segundo um interlocutor que participa das negociações, ainda há resistência da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, em lotear completamente os cargos das estatais do setor pelo PMDB. No fim de semana, Lobão e Múcio já haviam fechado as principais pendências, mas falta o aval de Lula.

A criação do CPI do Cartão Corporativo fortaleceu o PMDB na disputa por cargos, mas esse fator ainda não foi decisivo. A avaliação no Planalto é de que, mais do que nunca, o governo vai precisar do PMDB e de sua tropa de choque no Congresso para controlar a CPI. Um influente peemedebista admitiu, de forma reservada, que nunca uma CPI foi tão providencial ao partido. Mas as ponderações técnicas de Dilma ainda têm efeito.

A conseqüência mais imediata do fortalecimento do PMDB na negociação foi a mudança de comportamento do Planalto em relação ao senador José Sarney (PMDB-MA). As chances de Sarney indicar um afilhado para presidir a Eletrobrás aumentaram de forma considerável. Dilma Rousseff estava conseguindo barrar a nova indicação de Sarney: o ex-presidente da Eletronorte José Antônio Muniz.

Antes, o Planalto já vetara a indicação do técnico Evandro Coura para o cargo, o que havia causado grande desgaste para Sarney. O Planalto não escondia a preferência pela indicação feita pelo governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ): o ex-presidente da Eletronuclear Flávio Decatt, que tinha o aval de Dilma.

Sarney também deve nomear Astrogildo Quental para a diretoria financeira da Eletrobrás. Outra solução sinalizada pelo Planalto é a indicação de Jorge Zelada para a diretoria internacional da Petrobras, feita pela bancada mineira do PMDB.

- Será um problema se esses cargos continuarem sob o comando de interinos eternamente. Até porque essas estatais precisam de continuidade e o interino não tem força para resolver - criticou o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO).

Também passou a sofrer resistência a indicação, por Jader Barbalho (PMDB-PA), do diretor do Detran no Pará, Lívio Rodrigues de Assis, para a presidência da Eletronorte.