Título: Temos carga de 1º mundo e serviços de 5ª
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 12/02/2008, O País, p. 9

Ex-assessor de Lula diz que país tem dinheiro, mas sofre com corrupção.

SÃO PAULO. O Brasil tem dinheiro para resolver problemas como saneamento e saúde, mas sofre com a corrupção e a incompetência. Esta foi a opinião defendida ontem, diante de representantes da ONU (Organização das Nações Unidas), pelo empresário Oded Grajew, ex-assessor especial do presidente Lula. O empresário, que preside o conselho deliberativo do Instituto Ethos, disse, no lançamento da Conferência Mundial de Desenvolvimento das Cidades (CMDC), na Fecomercio SP, que, "enquanto não cair essa ficha", o país continuará enfrentando graves problemas.

Em entrevista, Oded Grajew criticou o fato de, todos os dias, 226 brasileiros morrerem de doenças da pobreza ou sem atendimento médico, como mostrou reportagem do GLOBO domingo passado:

- O Brasil tem carga de tributos de 37% do PIB (Produto Interno Bruto). Temos a carga de primeiro mundo e serviços de quinta categoria, por má gestão e corrupção. Dinheiro não falta.

Para ele, as 82.500 pessoas que morrem anualmente de doenças da pobreza e sem atendimento médico, segundo informações do Ministério da Saúde (DataSus), não "financiam" as campanhas eleitorais.

- Em primeiro lugar, tem a corrupção, o desperdício dos recursos públicos. Em segundo, a incompetência, a estrutura política, os loteamentos de cargos. Fora isso, quem financia as campanhas políticas não são esses pobres que morrem. A maioria dos nossos políticos está a serviço das grandes empresas e do crime - disse Grajew, referindo-se a financiamento e ao caixa dois das campanhas eleitorais.

Para Cecília Martínez Leal, diretora da ONU-Habitat-Rolac (órgão da ONU voltado ao desenvolvimento urbano da América Latina e Caribe), os cidadãos têm responsabilidade:

- Os cidadãos muitas vezes têm o governo que merecem. Porque temos de ter responsabilidade de cidadania. Fala-se muito em direitos humanos, mas poucas vezes falamos nas responsabilidades.

Para ela, a América Latina está muito atrasada em serviços de saneamento básico.

- Para chegar aos objetivos do milênio uma condição fundamental é o melhoramento do acesso à água potável e ao saneamento. Mas, tanto na América Latina quanto no Brasil, estamos muito defasados.

Vincent Defourny, representante da Unesco no Brasil, defendeu como prioridade o combate à violência urbana. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), apontou como desafios urbanos, além da educação e da saúde, a poluição sonora, do ar e da água.