Título: FH: todos os gastos devem ser investigados
Autor: Vasconcelos, Adriana; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 13/02/2008, O País, p. 3

Deve-se preservar a intimidade das famílias, não seus gastos com dinheiro público".

SÃO PAULO. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse ontem que qualquer gasto com dinheiro público deve ser investigado, mesmo os relativos às famílias dos chefes do Executivo. Em entrevista à Rádio CBN, ele discordou de quem defende o sigilo dessas despesas:

- Vejo toda hora nos jornais que temos que preservar a família dos presidentes. Claro, deve-se preservar a intimidade das famílias, mas não os gastos das famílias se eles forem feitos com dinheiro público. Se alguém da minha família, não houve isso, mas se tivesse usado conta B, cartão corporativo, seja lá o que for, para comprar o que é pessoal e indevido, não pode. É errado. E no meu tempo não me lembro que gasto com o Palácio fosse questão de segurança nacional. Há um exagero na questão da segurança.

Fernando Henrique também criticou a oposição pelo acordo com o governo para viabilizar a criação da CPI do Cartão Corporativo:

- A oposição não precisa fazer acordo de nada. Faz a CPI a partir do fato determinado. Se no encadeamento da investigação ficar claro que é necessário remontar ao passado, que se chegue até a Deodoro (Deodoro da Fonseca, primeiro presidente do Brasil, de 1889 a 1891). Isso dá uma impressão de que estamos escondendo alguma coisa. Esconder o quê? Se tiver ocorrido alguma coisa errada no meu governo, sou o primeiro a querer saber o que foi para dizer que, infelizmente, houve isso e que não se deve fazer.

Para Fernando Henrique, a decisão de investigar os gastos desde 1998 - quando ainda não havia cartões corporativos, criados em 2001 - é uma tentativa de "melar" a investigação:

- Apareceram fatos concretos. Pode ser que, começando por aqui, quem sabe se possa fazer uma comparação. Mas começar com 1998 não tem sentido. É melar o jogo.

Perguntado se apóia a criação de uma CPI na Assembléia Legislativa de São Paulo para investigar gastos com cartão de débito do governo José Serra, disse que sim, mas que uma CPI pode virar palanque para ataques infundados da oposição:

- A CPI é um direito das minorias. Evidentemente, é um jogo político. Eu mesmo fiz o possível para evitar, porque sempre há a possibilidade de a CPI se transformar em espetáculo de acusações sem prova. Mas é do jogo da democracia.

E defendeu o cartão, implementado no seu segundo mandato.

- Estamos confundindo alhos com bugalhos. O instrumento é bom, o uso é que é mau. Há momentos em que tem mau uso: por exemplo, quando se retira recurso em dinheiro vivo. Não há razão para isso. Segundo, a quantidade de portadores desses cartões. Não há controle possível assim. Terceiro, houve fatos notórios que a imprensa publicou de ministros que usaram mal. Com cartão ou sem cartão, há gasto que não pode ser feito com dinheiro público. É abuso e tem que ser corrigido.