Título: PSDB nega acordo com o Planalto para blindagem de Lula e FH na CPI
Autor: Vasconcelos, Adriana; Lima,Maria
Fonte: O Globo, 13/02/2008, O País, p. 4

O ESCÂNDALO DOS CARTÕES: Arthur Virgílio envia requerimentos a ministros.

Pequenos partidos vão ao Supremo contra sigilo de gastos da Presidência.

BRASÍLIA. Setores da oposição negaram ontem que um acordo pela instalação de uma CPI mista sobre o mau uso dos cartões corporativos tenha garantido também a blindagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seu antecessor, o tucano Fernando Henrique Cardoso. Da tribuna, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), afirmou que não há possibilidade de seu partido compactuar com um acordo desse tipo:

- Não há acordão algum. A CPI que vai investigar o escândalo - e é escândalo mesmo - dos cartões corporativos não blindará quem quer que seja.

Nem todos os tucanos, porém, pareciam certos disso. Num almoço oferecido pela cúpula do partido, que reuniu cerca de 20 parlamentares de oposição e dissidentes governistas, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) e o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), autor do requerimento que propõe a criação da CPI mista, bateram boca.

- Só podemos aceitar uma CPI que investigue a Presidência da República, caso contrário ela se desmoraliza na sua instalação. O Supremo Tribunal Federal saiu, com muita coragem, na nossa frente - reclamou Dias.

Sampaio reagiu:

- Prefiro uma CPI que aconteça. Sou favorável à abertura de todas as informações. Jamais fiz um acordo que pudesse macular a minha história.

- A oposição terminou o ano bem e começa tropeçando - lamentou o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), um dos dissidentes, mas que preferiu não comparecer ao almoço.

Demóstenes Torres (DEM-GO) também faltou:

- Não se discute estratégia de ação num almoço público.

Deputados do chamado grupo independente, e que ajudaram a coletar assinaturas para a CPI do Cartão Corporativo, articulam-se para impedir que a investigação se limite aos pequenos gastos do governo. Além de entrar com ações no Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir a quebra do sigilo de todas as despesas da Presidência, tentam aumentar o número de componentes da CPI, de 22 para 34, sendo 17 deputados e 17 senadores. Eles crêem que, com a atual composição, o governo terá o controle total, com oito governistas de cada Casa, contra três da oposição.

"Só participarão PT, PSDB, PMDB e DEM", diz Gabeira

Segundo o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), caso não seja alterada a composição, os pequenos partidos como PSOL, PV e outros, ficarão de fora:

- Vai ser um massacre. Só participarão o PT, o PMDB, o PSDB e o DEM. Se forem generosos, nos dão uma suplência.

O presidente do PPS, Roberto Freire, protocolou ontem no STF ação, com pedido de liminar, pedindo a derrubada do sigilo em despesas do governo, da Presidência ou de outros órgãos. Para que a ação tenha sucesso, o STF tem que derrubar o decreto 200, de 1967, que garante o sigilo. Já o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), protocolou na Mesa do Senado requerimentos aos 37 ministros de Lula, pedindo dados pormenorizados sobre o uso dos cartões, entre 2003 e 2007.

Virgílio encaminhou outros dois requerimentos à Secretaria-Geral da Presidência. Um com o mesmo teor dos enviados aos ministérios, mas referente ao período de 2001 a 2002, abrangendo, portanto, o tempo em que ele próprio ocupou o cargo, no governo Fernando Henrique.