Título: Múcio: houve erros, mas não sei de quem é a culpa
Autor: Éboli, Evandro; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 13/02/2008, O País, p. 5

O ESCÂNDALO DOS CARTÕES: Governo define perfil dos parlamentares que deverão ser indicados para integrar a CPI.

Ministro diz que presidente reconheceu que governo errou ao não agir antes e punir mau uso do cartão corporativo.

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu que o governo errou por não ter agido antes no sentido de impedir e punir maus gastos com cartão corporativo, já que as despesas eram publicadas pelo Portal da Transparência, da Controladoria-Geral da União (CGU), disse ontem o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro. O presidente afirmou na abertura da reunião de coordenação de governo, segunda-feira no Planalto, que o governo deveria ter sido mais enérgico quando surgiram, no Portal da Transparência, os primeiros gastos suspeitos.

- Cometeu-se algum erro? Cometeu-se. O governo tornou as contas transparentes, mas, em determinado momento, deixou de fazer a censura conta por conta. Não usamos a transparência que criamos na hora em que apareceu o primeiro erro. Poderíamos ter corrigido, e talvez não ocorressem esses sucedâneos - disse o ministro, após reunir-se com aliados ontem: - Lula disse que estamos tranqüilos e que procurássemos ser mais fiscalizadores. Usar a divulgação (no Portal da Transparência) para fiscalizar. Poderia ter aferido antes o que estava sendo gasto. O funcionário que abusou deveria ter sido repreendido e não foi. De quem é a culpa? Não sei! - disse o ministro.

Erros que o governo quer evitar na condução da CPI do Cartão Corporativo no Congresso. O núcleo de articulação política do governo orientou ontem os líderes aliados para que tenham cuidado redobrado na escolha dos parlamentares que vão participar da CPI. Na reunião de ontem no Palácio, o ministro José Múcio deixou claro que não poderia haver qualquer descuido na escolha de parlamentares absolutamente fiéis:

- Vamos ter uma tropa de choque para elucidar os fatos.

Um perfil chegou a ser traçado pelo governo para a seleção da tropa de choque: os parlamentares não podem ser candidatos às eleições deste ano para evitar a pressão da mídia; precisam ser mais experientes, mais racionais e menos emocionais; não podem dar a vida por um holofote; além de serem discretos e com um alto índice de fidelidade aos líderes partidários. O grande temor no governo é a repetição do efeito "Osmar Serraglio" (PMDB-PR), numa referência ao deputado escalado para a CPI dos Correios que fez uma investigação duríssima contra o governo e o PT.

- Existe uma preocupação clara do governo com a escalação do time da CPI. Por isso, a determinação é de colocar parlamentares experientes. Vamos escolher com lupa os nomes. Não podemos indicar alguém que possa dar problema ou que queira ser mais realista do que o rei. Temos que escolher políticos responsáveis, que não se deixem levar pelos holofotes - disse o líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves.

Múcio afirmou que o governo não vai interferir na escolha do presidente e do relator da CPI, mas depois acrescentou que os cargos devem ficar mesmo sob o comando de PMDB e PT.