Título: Reitor da UnB deixa cobertura e fica no cargo
Autor: Weber, Demétrio; Marques, Sérgio
Fonte: O Globo, 13/02/2008, O País, p. 8

GASTOS SEM CONTROLE: Lixeiras de R$999 e saca-rolhas de R$859 estão entre as compras sob investigação.

Ministério Público cobra a devolução, aos cofres públicos, de R$470 mil usados para mobiliar o apartamento.

BRASÍLIA. Sob ameaça de ser chamado a depor na CPI das ONGs, no Senado, o reitor da Universidade de Brasília (UnB), Timothy Mulholland, anunciou que deixará a cobertura em área nobre da Asa Norte na qual foram gastos, segundo o Ministério Público, R$470 mil em móveis e artigos de luxo - incluindo uma lixeira de R$990 e um saca-rolhas de R$859. A decisão foi tomada após o Ministério Público do Distrito Federal divulgar que as compras foram pagas pela Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), vinculada à UnB. O Ministério Público quer que Mulholland devolva o dinheiro.

Em carta divulgada na internet (www.unb.br), Mulholland diz que agora o apartamento será usado para "atividades de representação" da UnB, ou seja, uma espécie de salão de festas para recepções e eventos da instituição. A carta fala em imediata desocupação do imóvel. Vizinhos e funcionários do prédio disseram que a mudança foi na segunda-feira à noite. O reitor teria levado apenas malas. "Sem apego pessoal, sensível às preocupações da comunidade universitária e para preservar a instituição, determinei que o imóvel seja reservado para atividades de representação da universidade", diz o texto.

A reitoria confirma as compras, mas contesta o valor, informando que a despesa teria sido de R$350 mil. Inicialmente, Mulholland argumentou que a mobília e os utensílios integravam o patrimônio da universidade e que o apartamento tinha finalidade institucional, isto é, serviria para recepcionar embaixadores, pesquisadores e autoridades. No sábado, ele declarou à TV Globo que era preciso seguir uma "linha estética".

Nos últimos dias, estudantes protestaram na frente do prédio, pedindo não só que ele saísse do apartamento, mas também que deixe o cargo. Eles reclamam de problemas de infra-estrutura nas moradias estudantis e salas de aula. A UnB informou que o reitor voltará a morar no apartamento funcional onde vivia antes de ir para a cobertura. Mulholland não deu entrevistas ontem. A universidade tampouco esclareceu o que será feito com os móveis. Segundo o Ministério Público, a cabeceira da cama custou R$3.744.

- O afastamento não elimina a necessidade do ressarcimento aos cofres públicos. O que adianta sair de lá e deixar para trás um home-cinema de R$30 mil? - disse o promotor Ricardo Antonio de Souza.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) apresentou requerimento convocando Mulholland para depor na CPI das ONGs. Ele recebeu um comunicado sobre a desocupação:

- Não evita (a convocação), porque o fato se consumou. É preciso dar explicações.