Título: Jefferson: Delação premiada é para vagabundo
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 13/02/2008, O País, p. 13

Denunciante e réu do mensalão confirma acusações e reafirma que avisou a Lula sobre a compra de votos no Congresso.

Em depoimento de menos de uma hora, em que chegou a usar o banco dos réus como uma espécie de palanque, o deputado cassado Roberto Jefferson recusou ontem a oferta de delação premiada, feita pelo juiz da 7ª Vara Criminal Federal, Marcelo Granado. Ao ser perguntado sobre os nomes envolvidos no escândalo do mensalão, Jefferson, autor da primeira denúncia, preferiu apelar para o direito de réu. Afirmava, a todo momento, que não era testemunha, por isso não falaria sobre terceiros. O ex-deputado é um dos 39 acusados de envolvimento em esquema de compra de votos no governo Lula em troca de apoio político.

- Que delação, nada. A luta é política. Delação premiada é coisa para vagabundo, com todo o respeito - justificou o ex-deputado, em entrevista, depois do depoimento.

"Preciso do depoimento de Lula", diz ele

Na chegada ao prédio da Justiça Federal, no Centro do Rio, Jefferson afirmou que precisa do depoimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no processo do mensalão.

- Eu preciso do depoimento dele (Lula). Não é para criar embaraço para o presidente. Ele soube por mim do mensalão. Ele não sabia, mas eu preciso que ele confirme que eu contei a ele em janeiro de 2005 e em março - completou.

Durante o depoimento, Jefferson poupou Lula, voltando a relatar as duas reuniões em que comunicou a existência do mensalão ao presidente e a e três de seus ministros.

- Sei que ele (Lula) tomou providências, porque houve um sacode (no Congresso) depois disso (das reuniões).

Diante do juiz, o presidente do PTB confirmou que o partido recebeu R$4 milhões do PT, em 2004. Segundo ele, o recurso foi usado para fazer a campanha de TV de candidatos às prefeituras municipais. O juiz, então, perguntou por que o dinheiro foi pago em espécie:

- Essa é uma dúvida que também me assalta - reagiu Jefferson, que voltou a afirmar que todos sabiam da existência do mensalão no Congresso:

-- O que se ouvia no cafezinho, nos fundos do Congresso, era um escândalo.

No fim do depoimento, ganhou do juiz o direito de falar o que achasse necessário. Fez um discurso contra os procuradores que ofereceram denúncia contra os réus do mensalão (os chamou de "meninos do MP") e se emocionou ao falar da filha, a vereadora Cristiane Brasil. Ele afirmou que teria preferido que ela fizesse concurso para magistratura, em vez de ter optado por "seguir a vida pública".

Ex-deputado diz que acordos eram chancelados por Dirceu

Nas respostas ao magistrado e aos dois procuradores presentes ao depoimento, Jefferson afirmou que reiterava as informações dadas em depoimentos anteriores, mas ressaltou que nesse estava diante da "tribunalização" das denúncias. E que falaria apenas como acusado. Ao ser perguntado diretamente se o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu era responsável pela distribuição do mensalão, evocou novamente sua condição de réu. Mas afirmou que "todos os acordos partidários tinham a chancela dele (Dirceu)".

No depoimento, Jefferson tratou de assuntos variados. Afirmou que prefeitos e governadores "têm que beijar a mão do presidente" para conseguirem recursos. Sobrou até para o governador do Rio, Sérgio Cabral:

- Prefeito que se elege no Rio tem que beijar a mão do Lula. O governador do Rio tem que se prestar ao papel de laranja para indicar os nomes que o presidente Lula quer emplacar, pela concentração de dinheiro.

Ele afirmou ainda que os doadores preferem não aparecer. Por isso, "80% dos recursos são provenientes de caixa dois".

Em entrevista, ele afirmou que o caso dos cartões corporativos é mais grave que o do mensalão. E disse que a transparência do governo Lula "é pior do que lingerie de bordel":

- Até botox de homens e mulheres vai aparecer.

Depois do depoimento, Jefferson afirmou que foi tratado "com muita seriedade" pelo juiz e pelos procuradores.

- O MP queria avançar em relação ao presidente Lula, mas não posso acusar o presidente. Seria irresponsabilidade.

Ele aproveitou para fazer uma brincadeira sobre José Dirceu:

- O Zé tá bonitinho com aquele cabelo novo.