Título: No caso dos cartões, impasse sobre CPI
Autor: Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 14/02/2008, O País, p. 3

Oposição acusa base de boicotar investigação; Jucá ameaça fazer comissão só no Senado

Maria Lima e Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. Um boicote dos partidos da base governista na Câmara impediu ontem que o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) protocolasse na Mesa o requerimento para criação da CPI mista para investigar irregularidades no uso dos cartões corporativos. A oposição acusou os líderes do governo de tentar inviabilizar e atrasar o início das investigações de gastos, que chegam a R$160 milhões. Após sofrer o desgaste de aparecer como o mentor do acordo com o líder Romero Jucá (PMDB-RR), Sampaio acusou o líder Henrique Fontana (PT-RS) de usar como desculpa sua negativa de mudar o requerimento - para explicitar a investigação das contas B no governo tucano - para inviabilizar a coleta das assinaturas necessárias na Câmara.

No fim do dia, Sampaio havia conseguido 172 assinaturas, uma a mais do que o necessário, mas achou arriscado protocolar o pedido. Caso dois deputados retirassem o nome, a CPI seria arquivada. Até agora, 56 deputados do DEM e 56 do PSDB assinaram o documento, mais 14 do PPS e o restante de PV, PSOL e PTB. No Senado há folga: 34 já assinaram, inclusive Jucá e Eduardo Suplicy (PT-SP). Hoje Sampaio se reúne com os líderes da oposição na Câmara e no Senado para decidir o que fazer. A idéia é protocolar de qualquer jeito o requerimento, e expor o jogo do governo.

- A exigência do Fontana não passa de uma tentativa dissimulada de inviabilizar a CPI. Tudo indica que foi um jogo armado entre Jucá e Fontana para acobertar tudo e não ter CPI nenhuma. O Jucá concordou com o texto que eu levei. Agora, parece que há uma recomendação expressa para que ninguém assine, principalmente no PMDB , PT e PR . Se os dois líderes fizeram um acordo para me fazer de bobo, quem saiu de bobo nessa história fui eu, que acreditei que apoiariam a CPI para valer - desabafou Sampaio.

Fontana rebateu:

- O Sampaio está fazendo marola! Andei o dia inteiro atrás dele para assinar. Deixei três recados e ele não me procurou. Só falta querer que eu ande a esmo por Brasília procurando por ele. Há dois dias, tivemos uma conversa dura sobre a necessidade de mudar o requerimento por causa das contas B. Mas depois achei que estava tudo bem.

As acusações de Sampaio irritaram Jucá, que promete retomar seu requerimento de CPI exclusiva do Senado, se a base não colaborar na Câmara.

- A orientação do ministro José Múcio (Relações Institucionais) foi para que todos assinassem. Mas, se houver qualquer dificuldade operacional na Câmara, que me avisem, pois se não tiver a CPI mista, vamos retomar a do Senado - avisou Jucá.

Para Jucá, a insistência de Fontana em alterar o texto do requerimento de Sampaio seria "preciosismo". Ao contrário dos governistas na Câmara, Jucá defendeu um entendimento com a oposição para o comando da CPI:

- Eu defendo isso, mas infelizmente não abro a cabeça dos outros.

Até ontem, o líder do PT tentava convencer um petista a relatar a CPI. Os deputados José Eduardo Cardozo (SP), Luiz Sérgio (RJ) e Cândido Vaccarezza (SP) recusaram. Agora estão em análise os nomes de Rubens Otoni (GO) e Paulo Teixeira (SP).

- Isso, de dar a presidência da CPI para o PSDB, não existe. Daqui a pouco, o Arthur Virgilio vai subir na tribuna e dizer que, se não tiverem a presidência da Câmara, param o Senado - disse Fontana.

A despeito dos novos apelos feitos ontem pelo presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), para que haja divisão entre governo e oposição no comando da CPI, o líder do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), resiste.

- O partido já abriu mão de muita coisa - argumentou Raupp.