Título: Comissão pede saída de reitor da UnB
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 14/02/2008, O País, p. 5

"As universidades estatais foram apropriadas por sua comunidade", diz Cristovam

BRASÍLIA. O presidente da Comissão de Educação da Câmara, deputado Gastão Vieira (PMDB-MA), defendeu ontem que o reitor da Universidade de Brasília (UnB), Timothy Mulholland, deixe o cargo. Para Vieira, a divulgação de que a universidade gastou R$470 mil com móveis e artigos de luxo, inclusive uma lixeira de R$990, para mobiliar seu apartamento funcional inviabilizou a permanência de Mulholland à frente da instituição:

- Não há mais condição, perante a sociedade brasileira, de que o Timothy continue como reitor da UnB. Houve um abuso. É preocupante ver a autonomia universitária, que se quer cada vez maior, ser usada para estabelecer prioridades que nada tem a ver com a finalidade da instituição. Como reitor, deveria ter dito: "não aceito" (os móveis e artigos de luxo comprados para a residência oficial).

O Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UnB quer o afastamento temporário de Mulholland enquanto durar a investigação sobre os gastos. Na próxima quarta-feira, o DCE pretende protocolar representação no Ministério Público Federal pedindo a apuração do caso.

- Não queremos fazer prejulgamento, mas todos os mecanismos de auditoria de contas dentro da universidade passam pela chancela do reitor. Qualquer investigação fica prejudicada com a presença dele - disse o coordenador do DCE, Fábio Felix.

Conselho Universitário é presidido pelo próprio reitor

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que foi ministro da Educação e, de 1985 a 1989, reitor da UnB, classificou o episódio como um desastre. Ele lembrou que, ao assumir a reitoria, providenciou a venda do apartamento funcional da instituição e aplicou o dinheiro no campus. Cristovam disse que Mulholland deve um pedido de desculpas à sociedade, mas considerou prematuro falar em destituição do cargo.

- As universidades estatais foram apropriadas pela sua comunidade. Cada professor, funcionário e estudante acha que é dono, como se a universidade não pertencesse ao país. Houve uma apropriação do patrimônio estatal pelas corporações. O dinheiro deveria ir para os laboratórios de biologia, computação.

Internamente, o Conselho Universitário, que é presidido pelo reitor e reúne diretores de faculdades e estudantes, é a instância com poder para destituí-lo do cargo. Até ontem não havia reunião marcada. As aulas na UnB só começam em março.

O coordenador-geral do DCE cobrou investimentos nos cursos, afirmando que o custeio de nenhum deles em 2007 consumiu mais do que as despesas com o apartamento funcional, uma cobertura num prédio de luxo na Asa Norte, no Plano Piloto:

- Nos laboratórios falta reagente, na biblioteca falta acervo. Mais de 400 pessoas vivem na Casa do Estudante com falta de água, luz e goteiras.

Procurado pelo GLOBO, Mulholland não quis dar entrevista ontem, um dia após anunciar que deixou o apartamento. A reitoria confirma os gastos para mobiliar a cobertura, e sustenta que a despesa foi de R$350 mil. O Ministério Público do Distrito Federal vai acionar o Ministério Publico Federal para cobrar o ressarcimento aos cofres públicos.

Gastão Vieira deixará a presidência da Comissão de Educação nas próximas semanas. Ele criticou as eleições diretas para reitor - Mulholland foi eleito em 2005. Para Vieira, o Ministério da Educação deveria nomear um reitor para a instituição.